Segundo turno no Chile promete disputa acirrada

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Começam a surgir indícios de que a vitória da candidata socialista, Michelle Bachelet, no segundo turno da eleição presidencial do Chile não será o passeio que se previa três semanas atrás. A pesquisa publicada no começo da semana pelo jornal de Santiago El Mercúrio mostra Bachelet com 47% das preferências. Mas seu rival de centro-direita, o empresário Sebastián Piñera, tem 44,4%. No primeiro turno, em 11 de dezembro, Bachelet arrasou, obtendo 45,96% dos votos, diante dos 25,41% conquistados por Piñera. Há duas semanas, a vitória de Bachelet era considerada uma barbada, com várias pesquisas indicando uma vantagem de mais de 10 pontos em seu favor. Piñera ganhou o apoio do terceiro colocado no primeiro turno, Joaquín Lavín, direitista e ex-protegido do ex-ditador Augusto Pinochet. Mas não é só isso que explica o avanço de sua candidatura. Comedida no primeiro turno, quando evitou críticas mais pesadas ao governo da Concertación - a coalizão de partidos que governa o Chile desde o fim da ditadura Pinochet, em 1990 -, a campanha de Piñera decidiu jogar pesado nos ataques à ex-ministra da Saúde e da Defesa. Esses ataques chegaram ao seu ponto máximo na semana passada, quando a Renovação Nacional (RN, partido de Piñera) passou a denunciar o uso da máquina do governo na campanha de Bachelet. A principal denúncia é a de que alguns chefes de órgãos públicos pressionaram seus subordinados para doar parte de seus vencimentos ao fundo que financia a publicidade de campanha da candidata governista. Na tentativa de conter eventuais danos, o presidente Ricardo Lagos disse na segunda-feira que, se a denúncia tiver fundamento, abrirá uma investigação para apurá-la. Bachelet também se disse favorável à apuração, mas lembrou que as campanhas da Concertación sempre receberam milhares de doações voluntárias do funcionalismo público. "Se eu tivesse de apostar em quem será o vencedor no domingo, ainda apostaria em Bachelet, mas após uma disputa voto a voto", disse o professor de Ciências Políticas da Universidade do Chile André Baquedano. "Isso, só pelo fato de historicamente as candidaturas da Concertación, no dia da votação, terem mais capacidade para convencer os eleitores indecisos do que a direita." Para ele, as candidaturas de Bachelet e Piñera se tornaram muito parecidas na reta final da campanha. Com o Chile vivendo um período de prosperidade sem precedentes no passado recente, há poucas reformas a serem defendidas pelos candidatos. Piñera promete criar um milhão de empregos no país, de 16 milhões de habitantes - um desafio proporcional à promessa de campanha do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de criar 10 milhões de empregos no País. Bachelet insiste na proposta de reduzir o abismo social entre ricos e pobres no Chile, por meio de um investimento maior nos programas de inclusão já existentes. A questão ideológica, que dividia a sociedade chilena durante a era de Salvador Allende e Pinochet, explica Baquedano, também não é um grande empecilho para Piñera. O prestígio do ex-ditador - processado por crimes de corrupção e abuso de direitos humanos e detido em seu domicílio por várias vezes nos últimos anos - está em baixa no país. Ao contrário do que ocorre com Lavín, Piñera tem poucos vínculos com Pinochet na percepção do eleitor. A família do empresário, na verdade, tem ligações históricas com o Partido Democrata-Cristão, um dos integrantes da Concertación.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.