Sem Brasil, países latinos se reúnem para discutir como superar crise

Em encontro coordenado pela Espanha, presidentes pedem apoio de órgãos internacionais para enfrentar recessão

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Por Beatriz Bulla , Correspondente e Washington
Atualização:

Presidentes de nove países da América Latina e do Caribe se reuniram por videoconferência ontem convidados pelo governo da Espanha para discutir soluções para a crise econômica que atinge a região em razão da pandemia de coronavírus. Líderes de diferentes correntes políticas participaram do encontro virtual e pediram a organismos financeiros internacionais que considerem “medidas adicionais de apoio” para ajudar no combate à atual recessão. O Brasil ficou de fora do encontro.

A agenda do evento “Juntos por una respuesta para América Latina y el Caribe”, ao qual o Estadão teve acesso, anunciava as participações do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e dos presidentes da Argentina, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai, além da primeira-ministra de Barbados e atual presidente da Comunidade do Caribe (Caricom)

Pedro Sánchez (E) em videoconferência em Madri Foto: EFE/Fernando Calvo/Moncloa

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No encontro, os países aprovaram uma declaração que esboça algumas possíveis soluções de financiamento para rebater os efeitos da crise. Uma das medidas defendidas é “estudar possíveis reestruturações de pagamentos de dívida, caso a caso, a países altamente endividados em razão da pandemia”. A ideia é convencer instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) que a reconstrução da região exige novos instrumentos de financiamento. 

“Com a iniciativa, queremos contribuir para que os países latino-americanos e do Caribe tenham à sua disposição maiores recursos para responder ao desafio socioeconômico e para que possam lançar as bases de um crescimento mais equilibrado, sustentável e inclusivo em toda a região”, concordaram os países presentes.

A ausência de México e Brasil, os maiores países da região, foi questionada pela imprensa. O governo espanhol afirmou que o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, foi convidado, mas teve uma incompatibilidade de agenda.

O Estadão questionou o governo da Espanha se o Brasil foi convidado para o encontro. O mesmo questionamento foi enviado ao Itamaraty. Nem o governo espanhol, nem o brasileiro responderam até a publicação desta reportagem. Mas fontes do governo espanhol disseram ao Estadão que “a iniciativa é aberta” e o Brasil “poderá subscrever a proposta, se desejar”. O Brasil tem ficado isolado na discussão de soluções regionais durante a pandemia. 

A agência de notícias Servimedia noticiou que Brasil, Venezuela, Nicarágua e Cuba não foram contatados para participar do evento. “Não estarão países como México, que declinou por problemas de agenda do presidente Manuel López Obrador, enquanto outros, como Venezuela, Brasil, Nicarágua ou Cuba, não foram contatados”, noticiou a Servimedia. O jornal El País afirmou que fontes governamentais explicaram que López Obrador teve problemas de agenda, mas “as mesmas fontes evitaram esclarecer se (Jair) Bolsonaro havia sido convidado”.

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O FMI divulgou ontem projeções atualizadas para a atividade econômica dos países neste ano, indicando que a América Latina é uma das regiões que mais sofrerá os efeitos da pandemia, com retração de 9,3%. A diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, participou na reunião, mas não assinou a declaração conjunta. Na sua apresentação, ela afirmou que pensar em uma resposta conjunta é "a abordagem correta".

A declaração da reunião feita ontem foi assinada pelos presidentes Alberto Fernández (Argentina), Iván Duque (Colômbia), Carlos Alvarado (Costa Rica), Sebastián Piñera (Chile), Lenín Moreno (Equador), Mario Abdo Benítez (Paraguai), Martín Vizcarra (Peru), Danilo Medina (República Dominicana), Luis Lacalle Pou (Uruguai), além da primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, e do primeiro-ministro espanhol. 

Além da diretora-geral do FMI, estiveram presentes também o primeiro escalão de outros organismos financeiros e de desenvolvimento internacionais como o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno;o vice-presidente do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Carlos Felipe Jaramillo; o presidente do Banco Centroamericano de Integração Econômica (BCIE), Dante Mossi; o presidente executivo do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Luis Carranza; e a secretária executiva da Comissão Econômica para América Latina (Cepal), Alicia Barbacena. 

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