Sem Chávez, Venezuela vive nova era de incertezas

População não tem detalhes sobre o que motivou viagem do presidente a Cuba.

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Por Abraham Zamorano
Atualização:

Três semanas após a última aparição pública de Hugo Chávez, no último dia 15 de novembro, a população da Venezuela pouco ou nada sabe sobre o verdadeiro estado de saúde do "El Comandante", como o presidente é popularmente conhecido. Na última quarta-feira, ele viajou a Havana, em Cuba, para um suposto "tratamento especial" de oxigenação hiperbárica. Mas, até agora, Chávez - nem qualquer membro de seu governo - deram explicações detalhadas sobre o que, de fato, motivou a ausência do líder venezuelano. De acordo com o jornalista da BBC Mundo Abraham Zamorano, não é a primeira vez que o mandatário passa uma temporada na ilha comunista. Foi no país que o presidente se tratou - e afirmou ter se curado - de um câncer. Contudo, dessa vez, chamou atenção dos venezuelanos o fato de que o assunto não foi tratado como de praxe, com ampla cobertura do noticiário oficial. Não houve despedida tampouco imagens da viagem, por exemplo. A longa ausência de Chávez, conhecido pelas longas horas de participação em programas de rádio e TV, vem alimentado rumores sobre o estado de saúde do presidente venezuelano. Os meios de comunicação estão repletos de manchetes sobre o tema. Entretanto, sem confirmação por parte de fontes oficiais, muitas das notícias sobre o líder restringem-se ao campo das especulações. Segundo o analista político Luis Vicente Léon, em sua coluna publicada no jornal "El Universal" no último domingo, o principal questionamento é saber "se a deterioração do estado de saúde do presidente é devido às sequelas de sua recuperação (do câncer) ou está ligada a uma nova doença". Ou seja, se Chávez está em Cuba por causa do impacto das sessões de radioterapia a que se submeteu para tratar o câncer ou se está com uma recidiva da doença. Em meio à indefinição sobre o estado de saúde do líder venezuelano, a oposição do país tem cobrado detalhes sobre a ausência do presidente, sob a alegação de que tal assunto é obrigação do chefe de Estado. "A saúde (do presidente) não pode ser algo tratado sob sigilo, porque o povo tem direito de conhecer como anda a saúde do presidente", afirmou Henrique Capriles, candidato da oposição derrotado por Chávez nas eleições de outubro deste ano. Para o cientista político John Magdaleno, a "saúde do presidente é a principal fonte de incerteza na Venezuela". "O governo tem tentado dar a informação mínima necessária porque se forem divulgados o local exato do tumor e seu atual estágio, isso pode levar a especulações sobre a expectativa de vida do presidente", disse. Já o ministro de Comunicação, Ernesto Villegas, negou a falta de transparência. Entretanto, Villegas protagonizou um mal entendido nos bastidores do governo ao informar que o presidente estaria no dia 10 de janeiro para o começo de seu novo - e terceiro - mandato. A declaração foi interpretada por alguns meios de comunicação como um sinal de que Chávez permaneceria em Cuba até tal prazo, o que foi negado por Villegas. O vice-presidente do país, Nicolás Maduro, também se pronunciou sobre a saúde do líder venezuelano. Integrante do governo mais próximo de Chávez durante sua recuperação, ele exigiu respeito ao chefe de Estado do país. "Ele (Chávez) está cumprindo com rigor e disciplina o plano de governar o país pelos próximos seis anos, com mais força, mais maduro, com mais sabedoria", disse o vice-presidente durante um comício de campanha às vésperas das eleições regionais no próximo dia 16 de dezembro. Eleições A saída de cena de Chávez ocorre em meio à campanha para as eleições regionais. Como esperado, a ausência provocou polêmica e dividiu opiniões do público. "A experiência mostra que, quando o presidente está em tratamento, está mais presente do que nunca no debate interno", tuitou Luis Vicente Léon, presidente do instituto de pesquisas Datanálisis. Já para Madagleno, "é quase inevitável que isso (os rumores sobre o estado de saúde de Chávez) seja objeto de debate público diariamente, às vezes semanalmente. Não é uma questão irrelevante que o presidente tem câncer". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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