Sem diálogo, greve de fome na Bolívia continua

Deputados do Podemos em greve de fome desocuparam o Congresso, onde estavam desde terça-feira, permitindo a sessão; mas senadores continuam a ocupação

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Por Agencia Estado
Atualização:

A greve de fome de governadores, dirigentes cívicos, legisladores e constituintes da Bolívia continuou nesta quinta-feira sem sinais do diálogo que a oposição pede ao governo para retomar as atividades da Assembléia Constituinte. O presidente Evo Morales acusou os líderes políticos e civis dos departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija de tentar derrubar o governo e atrapalhar a Cúpula Sul-Americana de sexta-feira e sábado em Cochabamba. Em entrevista coletiva, o governante afirmou que, segundo os serviços de inteligência do Estado, os governadores da oposição "resolveram, pelo bem ou pelo mal, fazer a Assembléia Constituinte fracassar". Pouco antes, ele havia dito num discurso que não teme aplicar o plano de governo prometido na campanha eleitoral. Além disso, lembrou que as Forças Armadas existem "para defender a pátria". O líder do influente Comitê Pró-Santa Cruz, Germán Antelo, acusou Morales de atuar "de maneira abusiva e prepotente, ignorando o voto" dos habitantes dos departamentos que aprovaram a instauração de um regime autônomo no país. O governador de Santa Cruz, Rubén Costas, defendeu o romancista Juan Claudio Lechín da agressão que sofreu na terça-feira por parte de seguidores de Morales. Ele hoje se refugiou na capela militar de um bairro residencial de La Paz, para continuar sua greve de fome. Os dois insistiram que a nova Constituição deve incluir a autonomia dos departamentos e ser aprovada por dois terços dos 255 membros da Constituinte. Em meio a denúncias dos dois lados, a Conferência de Bispos católicos, a Assembléia Permanente de Direitos Humanos e a Defensoria pública, separadamente, pediram um "desarmamento espiritual" para "não provocar confrontos". Em Sucre, sede da Constituinte, o líder da bancada do Movimento Ao Socialismo (MAS, governista), Raúl Prada, disse que seu partido pode retomar as conversas se a oposição suspender as medidas de pressão. O senador da conservadora aliança Poder Democrático e Social (Podemos) Oscar Ortiz respondeu que a oposição está "aberta ao diálogo", mas sem condições prévias. Ortiz confirmou à Efe que os deputados em greve de fome da Podemos desocuparam o Congresso, onde estavam desde terça-feira, permitindo a sessão. Mas os senadores continuam a ocupação. Os deputados socialistas fizeram a sessão de quarta-feira no edifício da Vice-Presidência. No Senado, a maioria de oposição aprovou uma resolução pedindo aos presidentes que chegarem para a Cúpula Sul-Americana que recomendem ao governo da Bolívia que cumpra "a Constituição e Lei de Convocação da Assembléia Constituinte". A tensão aumentou com o suposto seqüestro do governador de La Paz, José Luis Paredes, por parte de camponeses, e pela denúncia de agressão a um dirigente sindical e um voluntário de direitos humanos da cidade de Santa Cruz. Cerca de 500 cidadãos de La Paz se reuniram numa praça da cidade para pedir a pacificação. Na cidade de Tarija, um grupo de jovens se "aquartelou", armado com machados, para apoiar seus dirigentes regionais.

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