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Sem falar em vitória, EUA declaram oficialmente fim da guerra no Iraque

Conflito incômodo. Tentando amenizar a percepção de que saída de soldados americanos abandonará os iraquianos à própria sorte após quase nove anos de combates, secretário de Defesa americano assegura que Washington se manterá 'ao lado do povo' do país

Por Denise Chrispim Marin , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

Com uma cerimônia discreta em Bagdá e sem festejos em Washington, os EUA declararam ontem, formalmente, o fim da guerra no Iraque. Considerado o mais controvertido conflito liderado pelos EUA depois do Vietnã, a guerra custou US$ 1,257 trilhão ao contribuinte americano, 4.483 vidas de militares do país e o sacrifício de 115,5 mil civis iraquianos. A palavra "vitória" tem sido cuidadosamente evitada pelo governo de Barack Obama. A cerimônia de ontem no aeroporto de Bagdá deu-se na chamada Casa de Vidro, a antiga sala de espera do ex-ditador Saddam Hussein e seus convidados, hoje ainda em ruínas e com as paredes remendadas por placas de madeira. Helicópteros voavam ao redor do edifício, onde o secretário americano de Defesa, Leon Panetta, formalizava o fim da guerra."Depois de muito sangue americano e iraquiano derramado, a missão de um Iraque capaz de governar e prover segurança a si mesmo tornou-se real", declarou Panetta. "Deixe-me ser claro: o Iraque será testado nos dias que vêm pela frente pelo terrorismo e por aqueles que buscam a divisão, por meio de questões econômicas e sociais e da demanda por democracia."Apoio. Panetta tentou aliviar a percepção de abandono do Iraque à própria sorte ao acentuar a disposição dos EUA de se manterem "ao lado do povo iraquiano". Desde o anúncio de Obama da retirada total do Iraque até o dia 31, em outubro, as bases americanas e setores civis iraquianos têm sido atacados, direta ou indiretamente, por grupos xiitas e sunitas. Negociações bilaterais sobre o reenvio de tropas ao Iraque, conforme avaliação do terreno, serão concluídas em março."Do ponto de vista de ser capaz de se defender de uma ameaça externa, francamente, eles (os iraquianos) têm de muito limitadas a poucas condições. Para defenderem-se de um determinado inimigo, eles terão de trabalhar mais", avaliou o general Lloyd Austin, comandante americano no Iraque, com o cuidado de não mencionar os riscos vindos especialmente do Irã.Até os últimos dias de dezembro, 4 mil soldados serão mantidos nas duas bases militares americanas remanescentes no país. A retirada de 40 mil militares, para os EUA e Kuwait, será concluída neste fim de semana. A partir do dia 1o, 150 militares ficarão no Iraque para proteger a embaixada e os consulados americanos, sob ordens do Departamento de Estado.Assim como fez Obama em seu discurso de quarta-feira, em Fort Bragg, Panetta evitou ontem a assinalar a vitória americana no conflito. Em janeiro 2009, quando Obama tomou posse, os EUA mantinham 180 mil soldados em mais de 500 bases no Iraque. Cerca de 1 milhão de soldados passaram pelo front em nove anos.O conflito não passava de uma "guerra idiota" a ser concluída o quanto antes, avaliava Obama na sua campanha eleitoral de 2008.A guerra fora autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU em 2003, sob forte pressão do governo de George W. Bush e o argumento da presença de armas químicas de destruição em massa no Iraque. Países como a França e o Brasil se opuseram à intervenção. As armas jamais foram encontradas, e as fotos de arsenais exibidas à ONU mostraram-se falsas. Os EUA continuaram no front, agora sob o pretexto de democratizar o país. "Vamos deixar (o Iraque) com muito orgulho", completou Panetta.

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