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Sem o carisma do irmão, Raúl Castro sai da sombra

"Dedico 90% do meu tempo ao Partido Comunista de Cuba e a maioria das minhas atividades não é publicável. Por isso não saio na imprensa"

Por Agencia Estado
Atualização:

Raúl Castro, de 75 anos, eterno segundo homem na hierarquia de poder na ilha, assume, em caráter provisório, num momento em que a principal indagação é sobre qual será o futuro do regime em vigor há 47 anos em Cuba, caso sobrevenha a ausência do ´grande timoneiro´ Fidel Castro. Isso se a eventual falta de Fidel não significar o próprio fim do regime na ilha. Num cenário de continuidade, especialistas apostam que o meio-irmão de Fidel não irá exercer o poder de forma solitária, quase absoluta como é hoje, e divida as responsabilidades com um colegiado. Serão tempos mais discretos e menos centralizados, simplesmente porque não há ninguém na ilha que possa substituir Fidel sozinho. O sinal mais cristalino de que haverá um colegiado em Cuba foi dado recentemente, quando o Partido Comunista anunciou novas medidas para fortalecer sua influência com a renovação do Secretariado integrado por 12 membros. Dois deles são Castro e Raúl, os outros vêm uma geração mais jovem. Esta renovação não acontece por acaso. Em junho de 2001, após sofrer um desmaio num ato público nos arredores de Havana, Fidel declarou: "Depois de mim, Raúl é quem tem mais experiência, mais conhecimento. Mas não está sozinho. Há um grupo de jovens com talento em nosso país". Em junho último, o próprio Raúl Castro declarou que o único herdeiro digno e capaz de substituir seu meio-irmão "é o Partido Comunista". O que foi interpretado como o anúncio de um futuro governo de orientação coletiva. Agora, devido à operação de Fidel, Raúl assumirá provisoriamente a chefia do Estado cercado de veteranos na cúpula política do Partido, como José Ramón Machado Ventura e José Ramón Balaguer, e de quadros de gerações mais novas, como o vice-presidente, Carlos Lage, e o chanceler, Felipe Pérez Roque, dois dos homens mais próximos ao líder da revolução cubana. Personalidades opostas Apesar de terem personalidades muito diferentes, segundo apontam alguns de seus biógrafos, os dois irmãos têm se mostrado estreitamente unidos ao longo de toda a sua vida. Ao lado da figura marcante e carismática de Fidel, Raúl se mantém num discreto segundo plano. "Dedico 90% do meu tempo ao Partido Comunista de Cuba e a maioria das minhas atividades não é publicável. Por isso não saio na imprensa", justificou, durante uma cerimônia militar, em dezembro de 2003. Educado no colégio dos Jesuítas de Santiago de Cuba e depois em Havana, como seu irmão, estudou na Universidade enquanto participava dos movimentos de luta contra a ditadura de Fulgencio Batista, seguindo os passos de Fidel. Em julho de 1953, comandou a tomada do Palácio de Justiça de Santiago de Cuba, dentro da operação do assalto ao quartel Moncada organizado por Castro para derrubar o governo de Batista. Após o fracasso da tentativa, foi condenado a 13 anos de prisão. Mas, assim como o seu irmão, foi beneficiado por uma anistia dois anos depois. Eles se exilaram no México, onde prepararam a expedição do iate Granma que daria início à revolução, em dezembro de 1956. Durante a luta na Sierra Maestra, participou de todas as campanhas guerrilheiras e, em fevereiro de 1958, foi promovido a comandante por seu irmão. Com o posto, ganhou a responsabilidade de abrir uma segunda frente de combate nas províncias do leste. Na clandestinidade, conheceu Vilma Espín, com quem se casou no início de 1959, após o fim da luta armada. Mulher de personalidade forte, Vilma preside a importante Associação de Mulheres Cubanas. Reformador discreto Depois da vitória da revolução, dedicou-se à criação das Forças Armadas Revolucionárias. Durante os primeiros anos do governo revolucionário, se encarregou de manter contatos de alto nível com a hoje extinta União Soviética. Embora tenha a reputação de homem duro e ortodoxo, Raúl Castro é considerado o responsável por algumas das mais importantes iniciativas de reformas no país. Ele transformou as forças rebeldes num Exército moderno, com a criação das Forças Armadas Revolucionárias, em 1959. Sob seu comando, as Forças Armadas superaram os limites militares e formaram quadros para o Partido Comunista de Cuba e ministros de governo, dirigindo algumas das atividades econômicas mais importantes do país. Em 1994, em pleno período especial, foi o artífice da abertura dos mercados livres camponeses para garantir alimentos à população. Sua vida privada é cercada da máxima discrição. Como Fidel, Raúl é alvo de boatos periódicos sobre supostos problemas de saúde, alimentados por suas longas ausências de atos públicos.

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