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Sem resgate

Por É CORRESPONDENTE EM PARISGILLES LAPOUGE e É CORRESPONDENTE EM PARISGILLES LAPOUGE
Atualização:

Em 13 de fevereiro, o presidente François Hollande recebeu no Palácio do Eliseu famílias de franceses reféns da filial da Al-Qaeda no Norte da África. Ele lhes disse que, de agora em diante, o Estado não só rejeitará qualquer transação financeira com sequestradores, como se oporá à entrega de dinheiro pelas famílias de reféns, seus empregadores ou companhias de seguro. Comunicar semelhante decisão a pais, cônjuges, filhos de uma pessoa detida há meses por assassinos não foi uma tarefa fácil. Foi ainda mais temerária porque um grande número desses prisioneiros se encontra no Mali, na região onde o Exército francês trava há dois meses uma guerra implacável contra os homens da Al-Qaeda, os sequestradores. Desde o começo dessa guerra, o destino desses reféns fez Paris tremer. Algumas autoridades rejeitavam abrir hostilidades que poriam em perigo ainda maior os franceses detidos pela Al-Qaeda. A escolha foi finalmente feita, em janeiro, no dia em que os bandos "terroristas" se iniciaram o assalto à capital do Mali, Bamako. Nesse dia, a França enviou aviões e soldados ao Mali. Essa guerra levou ao ápice as angústias das famílias de reféns. Sua cólera é compreensível. Esses ataques aéreos, essas operações de comandos são uma ameaça direta às vidas dos reféns. Como explicar a mudança de posição de Paris? Até aqui, a doutrina era a seguinte: oficialmente, não se gastaria nenhum euro com reféns; na realidade, sempre se pagava. Essa prática ambígua tinha dois aspectos perversos: com o dinheiro obtido, os bandidos compravam armas que serviriam contra as tropas francesas. Outra consequência, talvez pior: os terroristas, que também são traficantes e bandidos, multiplicavam a captura de reféns. Aliás, a França é a principal fornecedora mundial de reféns. Só na África, são 16 (ao menos). Um jihadista disse outro dia: "Quando precisamos de dinheiro para armas, vamos ao mercado. Fazemos alguns reféns aqui e ali". Nos outros países, as regras variam. Mas EUA e Grã-Bretanha não negociam jamais por seus reféns. A lei britânica determina que é ilegal até mesmo uma empresa privada entregar o dinheiro. Nos EUA, isso pôde ser feito: o New York Times pagou para libertar um de seus jornalistas, David Rohde, sequestrado em 2009. A falta de uma doutrina universal sobre o tema é um problema. O mundo livre não opõe um escudo único e implacável aos crimes dos malfeitores. É por isso que muitos países desejam que a comunidade internacional adote uma "mesma religião", para que os terroristas saibam que sua indústria está condenada, fatalmente, a definhar. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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