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Sem rivais dentro do partido, Trump é favorito dos republicanos em 2024

Apesar de ter sido rejeitado nas urnas, ex-presidente mantém apoio de grande parte dos conservadores dos EUA, dificultando o surgimento de um novo nome para disputar a Casa Branca nas próximas eleições presidenciais

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e Correspondente
Atualização:

WASHINGTON - Donald Trump sobreviveu a dois processos de impeachment e saiu do cargo com a aprovação mais baixa de seu mandato. Nos EUA, a maioria quer mantê-lo afastado da política e acredita que ele seja responsável pela invasão do Capitólio, em 6 de janeiro. Mas, entre os republicanos, a história é outra. Trump tem apoio sólido. Sem rivais no partido, ele mantém a base fiel e segue como favorito para disputar a Casa Branca em 2024. 

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Três em cada quatro republicanos desejam ver o ex-presidente com papel preponderante no partido e, enquanto a maioria de independentes e democratas acredita que o ex-presidente não deveria concorrer a um novo cargo no futuro, 89% dos republicanos desejam vê-lo nas urnas novamente. 

“Ele continua absurdamente popular entre a base, o que dificulta muito que outro político republicano ganhe tração para a nomeação em 2024. O teste verdadeiro serão as primárias da eleição legislativa de 2022, quando saberemos se candidatos que não têm apoio de Trump conseguirão sobreviver”, afirma Gary Nordlinger, professor da George Washington University e especialista em estratégia política.

Trump em evento na Geórgia; apesar de ter sido derrotado por Biden, ele recebeu 74 milhões de votos em 2020, quase 10 milhões a mais do que na disputa de 2016 Foto: Doug Mills/The New York Times

Trump pensou em fazer um pronunciamento a jornalistas após o veredicto do seu segundo impeachment, mas desistiu. Sua mais recente manifestação foi um ataque escrito ao senador Mitch McConnell, líder do Partido Republicano no Senado. Apesar de votar pela absolvição de Trump, McConell culpou o ex-presidente pelo ataque ao Capitólio e disse que ele poderia responder na Justiça comum pelos seus atos. 

Em artigo ao jornal The Wall Street Journal, o senador afirmou que desafiará os candidatos apoiados por Trump na eleição legislativa do próximo ano. O embate reflete a existência de duas alas dentro do partido: a de Trump e a que deseja deixá-lo para trás. 

Entre o eleitorado, no entanto, há uma convergência favorável ao ex-presidente, segundo pesquisa da Quinnipiac University, feita entre os dias 11 e 14 de fevereiro. A absolvição de Trump graças à proteção da maioria do partido foi um reflexo da importância da opinião do eleitorado para os senadores e um indicativo do futuro dos republicanos. 

Enquanto 96% dos democratas entrevistados acreditam que Trump tenha sido responsável pela invasão do Capitólio, 89% dos republicanos acham que ele não pode ser culpado pela insurreição e pela violência do dia 6 de janeiro.

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Bolha de informação

Levantamento do instituto Morning Consult, em parceria com o site Politico, aponta que mais da metade dos republicanos (54%) diz que apoiaria a candidatura de Trump em 2024, caso ele dispute as primárias, um patamar igual ao registrado em novembro do ano passado. O apoio a Trump cresceu na comparação com os dias seguintes ao ataque ao Capitólio. 

Nas últimas duas eleições, os republicanos perderam apoio entre o eleitorado de alta escolaridade dos subúrbios das grandes cidades, onde os democratas ganharam espaço. Do outro lado, com Trump, o partido conquistou apoio entre uma base predominantemente masculina, branca e de baixa escolaridade. Analistas apontam que a base do partido tem se aproximado cada vez mais de ideias extremistas e apoiado teorias da conspiração.

“Eu não diria que a base republicana tem se deslocado mais para a direita. As pautas estiveram aí nas últimas décadas: forte discurso contra imigração ilegal, antiaborto, a favor do porte de armas. O que vejo de diferente é o fato de haver uma descrença quanto às informações verdadeiras. O fato de que há republicanos que acreditam que a eleição foi roubada é inacreditável”, afirma Nordlinger. 

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No entanto, a hipótese das diferentes bolhas de informação produzirem dois mundos diferentes – refletidos em canais de TV dos EUA, a favor e contra o ex-presidente – não é tão importante para a manutenção do apoio a Trump, segundo análise do jornalista David Graham, na revista The Atlantic

“Talvez os republicanos estejam apoiando Trump não apesar da insurreição, mas por causa dela. Muitos eleitores republicanos apoiaram Trump em 2016 e 2020 não por afinidades políticas específicas, mas porque o viam como alguém que realmente lutaria por sua visão da cultura americana, fazendo o que fosse necessário para vencer”, escreveu Graham, que acredita que parte da base eleitoral republicana está de acordo com atos de violência. 

“A tentativa frenética de Trump de mudar o resultado da eleição não funcionou, mas foi exatamente o tipo de esforço furioso que seus apoiadores queriam. Por que eles teriam objeções agora?”

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Trump recebeu 74 milhões de votos em 2020, quase 10 milhões a mais do que ele teve na disputa de 2016. Nos meses após a eleição, no entanto, analistas sugeriram que o presidente poderia murchar diante da persistente acusação falsa de que as eleições foram fraudadas, da resistência em iniciar o processo de transição de governo, da tentativa de reverter o resultado eleitoral e, por fim, do ataque ao Capitólio protagonizado por seus apoiadores.

No entanto, as pesquisas feitas mais de um mês após o episódio e durante o processo de impeachment no Congresso mostram que a acusação contra Trump teve pouco impacto entre o eleitorado do Partido Republicano, que ainda apoia as atitudes do ex-presidente. 

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