Senado argentino analisa pacto sobre Amia com Irã

Memorando facilitaria investigações sobre atentado a prédio de associação judaica em Buenos Aires, em 1994

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Por ARIEL PALACIOS , CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
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O Senado argentino debatia ontem, no início da noite, o memorando de entendimento entre os governos da presidente Cristina Kirchner e de seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, para investigar o atentado que destruiu a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), em Buenos Aires, em 1994, provocando a morte de 85 pessoas. A sessão começou com uma troca de acusações entre governistas, que defendem o acordo, e opositores, que acusam o kirchnerismo de provocar um "retrocesso" nas investigações do atentado. Em quase 20 anos do ataque terrorista - o mais grave da história da América Latina - ninguém foi condenado e preso.O governo, que contava com maioria para aprovar o pacto no Senado, pretende criar uma "comissão da verdade" composta por juristas internacionais de renome para investigar a ação (investigação já feita pela Justiça argentina na década passada) e interrogar os suspeitos em Teerã. No entanto, a comissão não teria poderes coercitivos, já que a lei iraniana impede que cidadãos de seu país sejam extraditados e, até agora, Teerã rejeitou entregar os acusados.Investigados. Em 2006, a Justiça argentina acusou iranianos que ocupavam altos postos no governo do então presidente Akbar Hashemi Rafsanjani. Na lista estão o ex-chanceler Ali Akbar Velayati, o ex-ministro da Informação Ali Falahijan, o ex-assessor do governo Moshen Rezai, o ex-adido da embaixada em Buenos Aires Moshen Rabbani e o ex-diplomata Ahmad Reza Ashgari. A principal figura, porém, é o atual ministro da Defesa, Ahamad Vahidi.A Amia e a Delegações das Associações Israelitas da Argentina (Daia), braço político da comunidade judaica no país, criticam duramente o plano do governo Kirchner. Os grupos sustentam que ele implicaria um retrocesso sem precedentes para o caso, além da perda de soberania da Argentina. Além disso, eles ressaltam que o próprio chanceler Héctor Timerman, defensor do acordo, admitiu que os iranianos podem se recusar a ser interrogados. O governo Kirchner alega que o caso Amia está "estancado" e, se a comissão fracassar, a situação não ficará pior do que já está. O caso é controvertido e complicou a imagem do próprio chanceler - que é judeu - dentro da comunidade judaica argentina, a maior da América Latina. "Não tenho nenhuma confiança no Irã", admitiu, embora promova o pacto.Reparações. Ontem, a organização Anistia Internacional emitiu um comunicado no qual afirma que o memorando Irã-Argentina, de forma alguma, "garante o sucesso da investigação". No entanto, sustenta que ele "cria uma oportunidade para avançar na direção da Justiça e abre caminho para a reparação das vítimas".Em caso de aprovação, o memorando será encaminhado à Câmara de Deputados, onde será debatido e votado na quarta-feira. No entanto, os líderes da maioria dos partidos de oposição anunciaram que pretendem boicotar a sessão da semana que vem, para evitar que a votação tenha quórum.

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