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Senado argentino debate estatização de gráfica

Por ARIEL PALACIOS , CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
Atualização:

O Senado argentino começa hoje a debater o projeto de lei da presidente Cristina Kirchner que expropria a Companhia Sul-americana de Valores, antiga gráfica Ciccone, que imprime as notas de pesos argentinos. A empresa é o pivô do escândalo de corrupção protagonizado pelo vice-presidente Amado Boudou, suspeito de tráfico de influência por ter favorecido amigos na compra da gráfica. O escândalo, que ocupa as páginas dos jornais argentinos há seis meses, trouxe à tona um suposto enriquecimento ilícito de Boudou, além de lavagem de dinheiro e de negociações incompatíveis com a figura de funcionário público. Ontem, o ministro da Economia, Hernán Lorenzino, declarou que a expropriação pretende "assegurar a continuidade" das atividades da empresa e garantir a "soberania do Estado argentino na produção de moeda". Lorenzino foi designado interventor na empresa. A presidente da Casa da Moeda, Katya Daura, amiga de Boudou, será a vice-interventora da companhia expropriada.Por trás da decisão está a incapacidade da Casa da Moeda de enfrentar o aumento da emissão de cédulas de pesos, cuja demanda cresceu em razão da inflação galopante que afeta o país. Por esse motivo, o governo quer declarar a empresa de "utilidade pública". Desde ontem, a gráfica está sob intervenção transitória de 60 dias.Coincidentemente, a expropriação ocorre em meio a novas investigações da Justiça que provariam os vínculos entre Boudou e Alejandro Vanderbroele, dono da empresa expropriada, que o vice nega conhecer. Boudou aluga seu apartamento, no bairro de classe alta de Puerto Madero, para um sócio de Vanderbroele. Além disso, o empresário paga o condomínio e a TV a cabo do apartamento do vice-presidente. Boudou afirma que tudo não passa de um suposto "ataque midiático mafioso" realizado pelos jornais Clarín e La Nación.Reação. Os partidos de oposição acusaram o governo de expropriar a Companhia de Valores Sul-americana para encobrir o caso de corrupção e proteger Boudou. O escândalo envolve uma empresa fantasma no Uruguai, cujos donos são desconhecidos, um fundo de investimento holandês, dois fundos suíços que teriam vendido ações da gráfica e um argentino fugitivo da Justiça dos EUA, Gustavo Martinez, que aparece como sócio da empresa. Também estaria vinculado no caso o ex-banqueiro Raúl Moneta, que nos anos 90 foi aliado do então presidente Carlos Menem e, atualmente, controla meios de comunicação alinhados com o governo de Cristina. Os vínculos da gráfica com o governo também ficaram evidentes no ano passado, quando a empresa imprimiu as cédulas eleitorais de Cristina - na Argentina, cada partido imprime as suas. O escândalo fez a popularidade de Boudou cair e ele perdeu espaço no governo Kirchner. O vice-presidente, que em dezembro era o nome mais cotado para a sucessão de Cristina em 2015 (a atual Constituição não permite uma segunda reeleição), agora está distante da corrida presidencial. Desde o surgimento do escândalo, setores do governo manobram para levar a cabo, ano que vem, uma reforma constitucional que permita uma eventual segunda reeleição de Cristina. A presidente argentina foi eleita em 2007 e reeleita com 54% dos votos em 2011.

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