Senado da Argentina aprova reforma no Judiciário, que segue para a Câmara

Para opositores, governo vai tirar poderes dos magistrados federais que hoje conduzem os processos contra Cristina e seus aliados

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Por Redação
Atualização:

BUENOS AIRES - O Senado da Argentina aprovou na madrugada desta sexta-feira, 28, uma controvertida reforma do seu sistema Judiciário, em meio a protestos e críticas da oposição que diz que a proposta tem o objetivo de livrar a vice-presidente Cristina Kirchner de seus processos por corrupção. A matéria agora segue para a Câmara, que tem maioria opositora.

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O projeto, de autoria do presidente Alberto Fernández, cria mais tribunais criminais na capital do país e ainda mais nove câmaras de apelação e 60 tribunais federais no interior. 

De acordo com opositores, ao pulverizar os juizados em Buenos Aires, o governo vai tirar poderes dos magistrados federais que hoje conduzem os processos contra Cristina e seus aliados. A proposta foi aprovada após mais de 10 horas de intensos debates por 40 votos a favor e 26 contra. 

Senado presidido pela vice argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, aprova projeto de reforma do Judiciário Foto: Ronaldo Schemidt/AFP

Na Câmara, que tem maioria opositora, o projeto sofre resistência. Em entrevista ao canal A24, o presidente da Casa, Sergio Massa, afirmou que a tramitação da reforma pela Câmara “vai demorar muito mais do que no Senado”, embora diga que confia que a matéria será aprovada antes do fim deste ano.

“O Senado tem um tempo diferente da Câmara dos Deputados, que abre espaço para a opinião de associações, especialistas. Já temos pedidos de 41 expositores. Será uma discussão mais longa do que no Senado”, disse Massa.

Manifestantes se mobilizaram durante todo a quinta-feira para pressionar os senadores a rejeitarem a matéria. Muitos carregavam faixas com os dizeres “impunidade K”, se referindo à Cristina, que também conduziu a sessão no Senado – no país, o vice acumula o cargo de chefe dos senadores. 

Antes de o projeto ir para votação, o líder da oposição na Casa, senador Luis Naidenoff (UCR-Formosa), afirmou que a reforma proposta por Fernández serviria “para limpar as causas de Cristina e seus amigos”.  “Não há reforma judicial de fato”, disse em entrevista ao jornal La Nación.

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Durante a sessão do Senado, uma polêmica emenda do aliado de Cristina, Oscar Parrilli, acabou sendo retirada pelo autor após sofrer muitos ataques.

Argentinos protestam contra proposta de reforma do Judiciário, em Buenos Aires Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE

O governista queria que os juízes fossem obrigados a denunciar “pressões da imprensa” quando fossem avaliar casos de comoção nacional – incluindo processos contra políticos. 

A reforma aprovada deve criar 1.387 novos cargos no Judiciário Federal, entre desembargadores, escriturários, promotores, defensores e funcionários de cartórios – o projeto original encaminhado pelo Poder Executivo contemplava apenas 219 desses cargos, mas uma emenda que a oposição chamou de “reforma da reforma” acabou sendo aprovada. 

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De acordo com os opositores, a ampliação do número de cargos foi lida às pressas e não deixou margem para discussão. Antes da votação do projeto no Senado, Cristina disse que nos últimos 20 anos o país teve apenas duas reformas no Judiciário – uma para “democratizar a Justiça”, feita sob seu governo, e outra coordenada pelo ex-presidente Mauricio Macri para “perseguir” dirigentes da oposição.

Cristina responde a oito ações na Justiça e já foi até alvo de prisão preventiva, mas permanece em liberdade por causa de sua imunidade parlamentar. Entre um dos principais casos em que ela figura como investigada é o de supostos subornos pela concessão de obras públicas durante o governo de seu marido que já morreu, Néstor Kirchner (2003-2007), e o seu (2007 a 2015)./ AFP e REUTERS

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