Senado dos EUA derruba verba para fechar prisão de Guantánamo

Veto teve apoio de democratas e dificulta prazo pretendido por Obama para desativar presídio que abriga supostos extremistas.

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Por Bruno Accorsi
Atualização:

O Senado dos Estados Unidos votou contra o projeto de destinar US$ 80 milhões para fechar a prisão de Guantánamo, o presídio de segurança máxima americano mantido em uma base militar situada em território cubano. O veto, que uniu os democratas do presidente Barack Obama aos membros da oposição rebublicana, representou uma derrota para o líder dos Estados Unidos. Obama havia pedido o fechamento do presídio até janeiro de 2010 e soliticara que os US$ 80 milhões fossem incluídos na verba destinada ao financiamento das guerras do Iraque e do Afeganistão. A prisão de Guantánamo abriga 240 prisioneiros de 30 países suspeitos de ter praticado supostos atos terroristas contra alvos americanos. O veto se deu por 90 votos contra 6 e impede o uso de dinheiro federal para ''transferir, soltar ou encarcerar'' os detidos em Guantánamo para outros presídios em território americano. Peso das urnas A decisão dos democratas em aderir à oposição republicana se deu, em grande parte, pelo temor das implicações eleitorais do projeto do presidente. O fechamento do centro de detenção exigirá a transferência, se não de todos, ao menos de boa parte dos detidos para prisões de segurança máxima em diferentes partes dos Estados Unidos. ''Guantánamo nos deixa menos seguros. Mas esta não é a hora e este não é o melhor pojeto para lidar com isso. Os democratas defenderão um plano abrangente e responsável por parte do presidente. Nunca permitiremos que terroristas sejam libertados nos Estados Unidos'', afirmou o líder do Senado, Harry Reid. Até mesmo representantes da ala esquerda democrata cerraram fileiras contra o projeto. ''O dinheiro foi buscado de forma prematura'', disse a senadora Dianne Feinstein, que preside o Comitê de Inteligência do Senado. Armadilha Mas a senadora acrescentou que a precipitação da proposta acabou ''caindo direitinho na armadilha'' que teria sido lançada por representantes do Partido Republicano. ''Nós temos prisões de segurança máxima na Califórnia perfeitamente capazes de manter essas pessoas e das quais, creiam em mim, elas não escapariam. Por isso, eu creio que isso foi um exercício de alimentar o medo'', afirmou Feinstein. Os membros da oposição vinham afirmando que o fechamento do presídio faria com que supostos terroristas fossem transferidos para áreas urbanas dos Estados Unidos e representariam sério risco para as comunidades locais. De acordo com o líder da minoria republicana, Mitch McConnell, cerca de 12% dos ex-prisioneiros de Guantánamo que foram soltos retomaram atividades voltadas contra os Estados Unidos. ''Esse é um bom motivo para manter estes prisioneiros em Guantánamo até que o governo nos apresente uma proposta para manter estes terroristas fora do campo de batalha'', afirmou McConnell. Risco A proposta de financiamento para o fechamento do centro de detenção já havia sido derrubada na Câmara dos Representantes, na semana passada. A Câmara também vetou a transferência dos presidiários de Guantánamo para qualquer lugar nos Estados Unidos até 30 de setembro deste ano. Nesta quarta-feira, o diretor do FBI, Robert Mueller, disse que os Estados Unidos contam com centros de detenção capazes de abrigar os supostos extremistas, mas afirmou que estes repreentariam risco mesmo estando presos. Mueller comparou a ameaça representada pelos supostos terroristas com a de líderes de gangues criminosas que comandam suas atividades de trás das grades. ''Mesmo que eles não tenham oportunidade de escapar, ainda existe o risco, que nós já vimos antes, de eles seguirem atuando'', afirmou, durante audiência do Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes. O veto no Senado ocorre um dia antes de um discurso que Barack Obama fará sobre segurança nacional, no qual ele deverá fornecer detalhes sobre o que o seu governo pretende fazer com os detidos em Guantánamo. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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