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Senado vota lei decisiva para Cristina

Votação de hoje sobre aumento de impostos do setor agrícola é precedida por denúncias de compra de apoio pelo governo

Por Ariel Palacios e BUENOS AIRES
Atualização:

Hoje de manhã o Senado argentino começará a debater o polêmico projeto de lei da presidente Cristina Kirchner que aumenta os impostos sobre as exportações agrícolas, pivô do conflito que o governo mantém com os produtores agropecuários há 127 dias. O dia promete ser tenso, já que a votação - prevista para ocorrer perto da meia-noite (mesmo horário de Brasília) - é precedida por suspeitas de compra de votos de senadores por parte do governo. Para a presidente Cristina e seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, conseguir a aprovação do projeto é crucial para impedir mais abalos em seu já declinante prestígio político. Segundo denúncias de senadores opositores, diversos congressistas teriam recebido promessas de cargos no Poder Executivo, designações para embaixadas e fundos especiais para suas províncias em troca da aprovação do projeto. Ontem, o governo continuava pressionando os congressistas indecisos para que votem a favor da presidente. Segundo informações extra-oficiais, a própria Cristina Kirchner teria telefonado para vários senadores na tentativa de assegurar sua fidelidade. A manifestação organizada ontem por Kirchner no centro de Buenos Aires - na qual o ex-presidente apareceu rodeado pela cúpula do governista Partido Justicialista (peronista) - tinha como objetivo mostrar respaldo político ao governo e convencer os indecisos a votar pela aprovação do projeto. Em outra parte da capital, a oposição organizou um protesto ainda maior contra o projeto. Cristina contava até ontem à tarde com o voto assegurado de 33 senadores. A oposição tinha uma leve vantagem, já que contava com o apoio declarado de 34 senadores. Cinco senadores ainda estavam indecisos. No caso de empate, o voto de minerva estará nas mãos do presidente do Senado, o vice-presidente da república, Julio Cobos. O governo, no entanto, sua frio diante da possibilidade de que o desempate seja realizado pelo vice-presidente, já que nas últimas semanas Cobos se rebelou contra Cristina e se reuniu com ruralistas e representantes da oposição. A atitude do vice pegou Cristina e o ex-presidente Kirchner de supresa, já que Cobos era encarado - segundo as más línguas do gabinete presidencial - como "mosca morta". Cobos faz mistério sobre seu eventual voto. PROBLEMAS Desde o início da crise com o setor rural, a imagem da Argentina no exterior vai de mal a pior. Embora o PIB tenha crescido 8,5% no ano passado e a Argentina apresente um dos mais baixos índices de desemprego da América Latina - além de contar com a terceira renda per capita mais elevada da região -, os problemas do país não são poucos. A inflação disparou (e o governo é acusado de maquiar os índices oficiais), a presidente dá sinais de que pretende intensificar as medidas de intervenção da economia e reestatizar várias empresas, o consumo cai e aumentam as dúvidas sobre o futuro político do governo Cristina. Também incomoda a constante intervenção de Néstor Kirchner nas decisões do governo. Com esse cenário complexo, o país se tornou pouco confiável para os investimentos externos. A Argentina foi situada na posição de número 92 de um ranking de 122 lugares preparado pela revista Forbes sobre os melhores países para investimentos. A Mongólia (que ocupa a posição 59) e o Paraguai (70), por exemplo, são considerados mais atraentes para os investidores. A Argentina também está pior colocada do que as Filpinas (que ocupa o 91º lugar), e apenas levamento melhor do que Uganda (na posição 93). O Brasil aparece em 56º lugar na lista da Forbes.

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