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Senadores pedem maior engajamento dos EUA no Oriente Médio

Por Agencia Estado
Atualização:

Senadores democratas e republicanos e especialistas em política externa defenderam neste domingo um maior engajamento dos Estados Unidos como único meio para estancar a escalada da violência que já matou 1.262 palestinos e 401 israelenses nos últimos 18 meses. Posto claramente na defensiva por sua inação diante do agravamento do conflito, o presidente George W. Bush limitou-se hoje a condenar dois novos ataques suicidas levados a cabo neste domingo - o maior dos quais, num restaurante de comida libanesa na cidade portuária de Haifa matou 15 pessoas além do atacante. "O presidente não permitirá que esses ataques o desviem da busca da paz", afirmou um porta-voz da Casa Branca. Por sua vez o secretário de Estado Colin Powell, manteve-se hoje, pelo segundo dia consecutivo, em silêncio, postura que chama a atenção para sua impotência política e perda de influência como uma voz moderada num governo dominado por conservadores radicais. Mesmo correligionários de Bush já se mostram alarmados sobre os riscos da atitude passiva da administração republicana diante da carnificina em curso em Israel e nos territórios ocupados da Cisjordania e Gaza. "Creio que devemos ser mais firmes com os países árabes, de onde, creio, vem o financiamento" (para os atos terroristas perpetrados contra a população civil de Israel), afirmou o senador republicano Arlen Specter, da Pensilvânia, que é judeu e acaba de regressar de uma visita à região. "Precisamos propor um acordo político como passo seguinte a um arranjo sobre segurança para tentar dar alguma esperança a esses jovens (palestinos) de 18 anos (que executam os ataques suicidas), pois eles representam uma ameaça (para Israel) que é impossível de ser contida." Specter fazia uma crítica velada à decisão de Bush de encampar a posição do primeiro-ministro de Israel, o ultra-radical Ariel Sharon, e insistir apenas num cessar-fogo, sem oferecer aos palestinos, ao mesmo tempo, a perspectiva de um acordo político que leve as partes de volta à mesa das negociações de paz. O ex-conselheiro de segurança nacional da administração Carter Zbigniew Brzezinksi, chamou a atual política dos Estados Unidos no Oriente Médio de "incoerência estratégica" e disse que Washington precisa assumir um papel mais ativo de mediador e proponente de uma solução. A incoerência, segundo Brzezinski, está em votar no Conselho de Segurança das Nações Unidas uma resolução conclamando Israel a retirar suas tropas dos territórios ocupados e justificar, simultaneamente, a ofensiva militar ordenada por Sharon, dizendo que um cessar-fogo depende do líder palestino Yasser Arafat e deve ser discutido em seus próprios méritos, sem nenhuma alusão a uma solução política para o conflito. Para Brzezinski, nem Sharon nem Arafat estão interessados em negociar a paz. Mas isso não exime os EUA de sua responsabilidade de líder mundial de envolver-se e forçar os dois lados a negociar. Na mesma linha, Joe Lieberman, senador democrata de Connecticut, judeu praticante e defensor intransigente do Estado de Israel, pediu que o líder norte-americano faça "gestos mais ousados" do que repetir que cabe a Arafat, o presidente da Autoridade Palestina, a responsabilidade de parar os ataques contra Israel. "Com todo o respeito ao general Anthony Zinni (enviado especial de Bush, que está na região), creio que chegou a hora de o presidente pedir ao secretário de Estado, que tem uma estatura mundial tão elevada, para ir ao Oriente Médio", disse Lieberman. Para um outro senador democrata, Joseph Biden, de Delaware, que preside a comissão de relações exteriores do Senado, os EUA precisam fazer "algo dramático". Biden conclamou o próprio Bush a envolver-se mais diretamente na busca de uma solução para o conflito. O problema, para Bush, não se resume a seu temor de repetir o fracasso da política de total engajamento seguida por seu antecessor, Bill Clinton. A disposição de Washington de assumir o risco da liderança e induzir israelenses e palestinos a superar as enormes diferenças que os separam é condicionada, também, por uma dura luta interna pelo controle da política externa dos EUA entre Powell e o grupo mais conservador e duro formado pelo vice-presidente Dick Cheney, o secretário de Defesa Donald H. Rumsfeld, e o vice de Rumsfeld, Paul Wolfowitz. Em meados do ano passado, quando a passividade da administração diante do crescente conflito israelense-palestino já estava evidente, dúvidas sobre a relevância política de Powell chegaram a inspirar uma reportagem de capa da revista Time sobre a longevidade política do secretário de Estado. Os atentados de 11 de setembro do ano passado e a necessidade dos EUA de buscarem aliados para sua campanha global contra o terrorismo abriram novos horizontes para Powell. Em outubro, o secretário de Estado anunciou os contornos de uma iniciatova para o Oriente Médio e a nomeação de Zinni como enviado especial. Alguns dias depois, falando nas Nações Unidas, Bush tornou-se o primeiro presidente dos EUA a propor formalmente a criação de um Estado palestino. Mas, com os EUA totalmente absorvidos pela campanha contra o Taleban e a Al-Qaeda no Afeganistão, o chefe da diplomacia norte-americana não ocupou novos espaços e evitou engajar-se mais diretamente no conflito entre Israel e os palestinos. Não o fez por medo de fracassar e ver sua já limitada influência na condução da política externa e da guerra contra o terrorismo reduzida ainda mais, segundo informaçoes prestadas por seus assessores e aliados aos jornais norte-americanos. A radicalização da posição de Bush, cristalizada pelo discurso que ele fez ao Congresso, no final de janeiro, sobre o "eixo do mal" formado por Iraque, Irã e Coréia do Norte, e a estratégia daí decorrente de levar a guerra contra o terrorismo ao regime de Bagdá, mostraram uma vez mais impotência política de Powell. Embora ele tenha endossado a retórica belicista de Bush, assessores do secretário de Estado afirmam que Powell tem fortes dúvidas sobre o plano de ampliar a campanha antiterrorista ao Iraque - uma causa ardorosamente defendida por Cheney, Rumsfeld, Wolfowitz e pelo próprio Bush. Inimigo declarado do processo de paz iniciado pelos acordos de Oslo, de 1993, e de qualquer acordo com Arafat, Sharon trabalhou com afinco para dificultar um envolvimento mais ativo de Washington no conflito israelense-palestino. Sua estratégia foi vender a Zinni e a Cheney a tese segundo a qual os atentados terroristas perpetrados pelos palestinos em Israel, com crescente eficácia, são diretamente inspirados e ordenados por Arafat e são comparáveis aos ataques contra o World Trade Center e o Pentágono. Essa tese havia sido aceita pela administração antes mesmo de Sharon declarar, hoje, que Arataf é o líder de uma organização terrorista e prometer aos israelenses que manterá o cerco do quartel general de Arafat e a ofensiva militar nos territórios ocupados até destruir a infra-estrtura da Autoridade Palestina e assegurar "a vitória". Segundo o The New York Times, durante sua recente visita a Israel, o vice-presidente Cheney disse a altos funcionários do governo Sharon que, no que lhe concerne, "Arafat podia ser enforcado".

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