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Senadores tentam minar negociações com Teerã

Liderada por republicanos, carta enviada a líderes iranianos diz que acordo não chancelado pelo Congresso pode ser revogado após saída de Obama

Por WASHINGTON
Atualização:

Senadores americanos - a maioria republicanos - enviaram ontem uma carta aos líderes iranianos afirmando que um acordo nuclear acertado com o presidente americano, Barack Obama, só durará enquanto ele estiver no cargo. A pouco comum intervenção direta de parlamentares em assuntos de política externa foi vista como uma tentativa de minar as delicadas negociações com Teerã.

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Apesar da polêmica, o secretário de Estado, John Kerry, confirmou que se encontrará no dia 15 com seu homólogo iraniano, Mohamed Jawad Zarif, na Suíça, para um novo ciclo de negociações entre os dois países. A reunião ocorrerá três semanas antes do fim do prazo definido pelos EUA para chegar a um acordo definitivo com Teerã.

Em reação à iniciativa de 47 senadores - 40 deles republicanos - Obama qualificou a divulgação da carta como "uma medida não usual". "Acho irônico que alguns membros do Congresso queiram ter um causa em comum com os linhas-duras do Irã."

Zarif, por sua vez, rechaçou a iniciativa dos parlamentares, considerada uma "medida de propaganda" de grupos de pressão que, na sua opinião, temem um acordo diplomático. "Quero ressaltar para os autores que se o próximo governo (dos EUA) revogar qualquer acordo com o 'golpe de uma caneta' estará cometendo uma violação flagrante do direito internacional", afirmou.

Liderada pelo senador Tom Cotton - que é contra as negociações e pede uma mudança de regime em Teerã -, a iniciativa foi firmada também pelos líderes republicanos Ted Cruz, Marco Rubio e Rand Paul, cotados para a disputa presidencial no próximo ano. Uma porta-voz de Cotton disse que o escritório do senador enviou a carta para vários políticos democratas, mas nenhum assinou o documento.

O único senador republicano que não aderiu à iniciativa foi Bob Corker, que dirige o Comitê de Relações Exteriores do Senado. Segundo um funcionário de Corker, o parlamentar está direcionando seus esforços para conseguir apoio tanto de republicanos quanto de democratas para um projeto de lei que exija autorização do Congresso para um acordo com o Irã.

Entre os argumentos apresentados aos iranianos, a carta dizia que o Congresso exerce um papel fundamental na ratificação de acordos internacionais e, caso o acordo ainda não tenha sido aprovado pelos parlamentares após a saída de Obama da Casa Branca, em 2017, poderá se transformar em um mero "acordo executivo", que poderia ser revogado pelo Congresso.

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Antes de Obama comentar a iniciativa liderada pelos republicanos, a Casa Branca tinha declarado que a carta era uma tentativa partidária de atingir os esforços em política externa do presidente feita por parlamentares que se opunham a um acordo. "Congressistas republicanos estão prontos para avançar em uma iniciativa militar antes que a abordagem diplomática tenha tido uma oportunidade de ter sucesso", disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest.

Um diplomata ouvido pela agência Reuters afirmou que a iniciativa dos parlamentares era uma "ação sem precedentes". "É uma questão 100% americana, mas é óbvio que pode se tornar em um problema real", afirmou.

Na semana passada, após ser convidado pelo presidente da Câmara, o republicano John Boehner, sem autorização da Casa Branca, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, discursou em sessão conjunta do Congresso americano contra as negociações com Teerã. Na ocasião, Netanyahu disse que Obama estava negociando um "mau acordo". "Esse acordo não mudará o Irã para melhor, apenas mudará o Oriente Médio para pior", afirmou.

/ REUTERS, AP e EFE

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