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Senhor da guerra vira vice-ministro da Defesa do Afeganistão

Por Agencia Estado
Atualização:

O novo líder do Afeganistão começou a trabalhar hoje para tentar superar as profundas divisões do país, nomeando um proeminente senhor da guerra como vice-ministro da Defesa numa tentativa de unir as facções muitas vezes conflituosas da nação. O premier Hamid Karzai indicou para o cargo Rashid Dostum, trazendo um dos primeiros críticos do novo governo afegão para a administração. Dostum, um usbeque étnico que controla a maior cidade nortista do país, Mazar-i-Sharif, se mostrava irritado pelo fato de os ministérios-chave da Defesa, Assuntos Exteriores e Interior terem sido entregues para um grupo tajique étnico do Vale de Panjshir. "Acabei de assinar uma carta nomeando-o vice-ministro da Defesa", disse Karzai. "É o primeiro passo no sentido da criação de um Exército nacional". Dostum, 47 anos, foi um vital integrante da anti-Taleban Aliança do Norte, composta na maioria por minorias religiosas e étnicas afegãs, como tajiques, usbeques, hazaras e muçulmanos xiitas. Mas ele também tem uma longa história de sangrentas rixas com muitos comandantes da Aliança do Norte. Dostum tem seu Exército que lutou ao lado das tropas especiais dos Estados Unidos na tomada no mês passado de Mazar-i-Sharif, o primeiro grande bastião do Taleban a cair sob pressão de intensos bombardeios aéreos norte-americanos. Um ex-general no Exército comunista afegão com a reputação de ser um grande consumidor de uísque e de agir com crueldade, Dostum lutou ao lado das tropas soviéticas que ocuparam o Afeganistão durante os anos 80. Ele mais tarde desertou do Exército do governo e uniu-se às guerrilhas afegãs. Ele estará sob o comando do ministro da Defesa, Mohammed Fahim, que é da Aliança do Norte e disse hoje que os soldados de paz internacionais não devem permanecer no país mais do que seis meses. Karzai, que elegeu a segurança como prioridade, rapidamente reagiu dizendo que as tropas estrangeiras permanecerão no Afeganistão "tanto quanto precisarmos delas, no mínimo seis meses". A presença delas "é um compromisso de paz no Afeganistão, de estabilidade no Afeganistão, e uma vez que isso seja alcançado elas partirão", acrescentou. O primeiro contingente de marines da Grã-Bretanha já está patrulhando prédios governamentais. A força liderada pelos britânicos deve crescer para de 3.000 a 5.000 homens - incluindo 1.200 soldados prometidos pela Alemanha e 1.500 por Londres. Muitos afegãos têm dito que apóiam resolutamente forças de paz internacionais destinadas a proteger o governo. "Não nos importamos se soldados de qualquer lugar do mundo venham ao Afeganistão trazer a paz. Nós apenas não queremos soldados afegãos neste momento", disse Mohammed Nawab, um ex-comandante durante a invasão soviética. Enquanto isso, um poderoso chefe tribal afirmou hoje que um comboio atingido na sexta-feira por mortais ataques aéreos dos EUA no leste do Afeganistão levava também membros do Taleban e da Al-Qaeda - e não apenas líderes locais viajando para a posse do governo, como garantem algumas testemunhas. Amanullah Zardran, um alto líder da província oriental de Paktia, que abrigava importantes bases da Al-Qaeda, disse que a informação foi dada a ele por companheiros tribais que testemunharam o ataque. Cerca de 350 remanescentes da Al-Qaeda permanecem na área, afirmou Zadran. O Pentágono insiste que na caravana estavam líderes talebans. Mas no domingo, um sobrevivente disse que o comboio levava apenas líderes tribais convidados para a posse. De seu leito hospitalar em Peshawar, Paquistão, Haji Yaqub Khan, 65 anos, afirmou que eles foram atacados sem provocação. Em outra operação, soldados norte-americanos capturaram recentemente Abdul Haq Wasiq, vice-chefe do departamento de inteligência do Taleban, divulgou hoje uma agência de notícias. Wasiq foi detido em Ghazni, segundo a AIP, baseada no Paquistão. A informação não foi confirmada por oficiais norte-americanos. No leste do Afeganistão, comandantes milicianos afegãos disseram que a maioria das cavernas de Tora Bora, antes ocupadas por forças da Al-Qaeda, já foi vasculhada. Apoiadas por aviões de combate e Forças Especiais dos EUA, tropas afegãs capturaram o último bastião da Al-Qaeda, um complexo de cavernas, em 16 de dezembro. Oficiais norte-americanos acreditam que nas cavernas pode haver valiosas informações sobre a rede terrorista de Osama bin Laden, e afirmam que em breve comandos dos EUA podem ser usados para promover buscas naquelas que desmoronaram nos bombardeios. Autoridades dos EUA têm esperanças de que Bin Laden tenha morrido numa dessas cavernas. Mas Mohammed Zaman, o chefe de defesa da província de Nangarhar, disse não haver necessidade de mais soldados dos EUA. "É nosso trabalho e já começamos a fazê-lo", afirmou. "Este é o nosso país e não precisamos de soldados americanos aqui." Leia o especial

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