PUBLICIDADE

Separação de famílias de imigrantes causa racha entre Casa Branca e Partido Republicano

Congressistas discutem opção para impedir que crianças sejam separadas dos parentes ao serem abordadas na fronteira; projetos de lei serão votados semana que vem

Atualização:

WASHINGTON - Republicanos do Congresso dos Estados Unidos se distanciaram da administração do presidente Donald Trump e sua política de separar crianças de seus pais na fronteira sul do país. O racha acontece após a tentativa do governo de justificar a política de "tolerância zero" com os imigrantes que cruzam a fronteira.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, afirmou que "é muito bíblico aplicar a lei". Mais cedo, o secretário da Justiça Jeff Sessions havia citado a Bíblia anteriormente, em defesa da política de fronteira que tem resultado em centenas de crianças sendo separadas de seus pais.

+ Trump diz que rejeitará lei migratória moderada; secretário defende separação de pais e filhos

+ Estados Unidos enviam imigrantes a prisões federais

Os comentários vieram quando presidente da Câmara, o republicano Paul Ryan, e outros companheiros de partido disseram não estar confortáveis com a separação de pais e filhos. Os casos aumentaram dramaticamente depois que o Departamento de Justiça adotou, em abril, uma política que acusa todas as pessoas que atravessam a fronteira ilegalmente. "Nós não queremos que as crianças sejam separadas de seus pais", disse Ryan na quinta-feira 14.

Publicidade

+ Equatoriano entrega pizza em Nova York e é preso para ser deportado

Em uma conversa tensa com jornalistas na sala de imprensa da Casa Branca, Sarah acusou o partido Democrata pela política de separação e insistiu que o governo atual não fez nenhuma mudança que aumentasse o uso da tática. "A separação de famílias de imigrantes ilegais é produto das mesmas brechas legais que os democratas se recusam a fechar e essas leis são as mesmas que estão aí há mais de uma década, o presidente está simplesmente as impondo", afirmou a secretária.

No Texas, imigrantes são colocados sob custódia da patrulha de fronteira quando buscam asilo nos EUA. As famílias são enviadas a um centro de processamento para possivelmente serem separadas. Foto: John Moore/Getty Images/AFP

Ryan e outros legisladores afirmaram que estão tentando resolver o problema com um projeto de lei sobre imigração. Um rascunho do documento, divulgado na quinta-feira, determina que as crianças sejam mantidas com suas famílias enquanto estivessem sob custódia do Departamento de Segurança Interna, ou seja, na prática ficaram detidas junto com seus parentes.

As autoridades na fronteira sul dos EUA estão executando a política de "tolerância zero" imposta pela administração do presidente Donald Trump para imigrantes ilegais no território americano. Foto: John Moore/Getty Images/AFP

O congressista acrescentou que a atual política é aplicada de acordo com uma decisão judicial que impede que as crianças entrem ilegalmente no país sejam mantidas sob custódia por longos períodos. A líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi, rejeitou a avaliação, dizendo que o presidente Trump poderia dar um fim à prática rapidamente. Ela chamou a política de separação de "bárbara".

+ Organizações americanas repudiam proposta migratória de Trump

As separações familiares são resultado da "política de tolerância zero" da administração Trump para as pessoas que entrem no país ilegalmente. Sob a diretriz, as famílias que atravessam a fronteira sofrem um processo criminal. Anteriormente, as famílias passavam por processos de deportação civil, o que permitia que as crianças permanecessem com seus pais. Durante o processo criminal, as crianças são geralmente liberadas para os cuidados de outros membros da família ou para a assistência social.

Pressão.

Publicidade

Histórias de bebês e crianças pequenas sendo tiradas de suas mães receberam ampla cobertura da imprensa e a Casa Branca tentou mudar a narrativa oferecendo uma excursão a alguns canais de notícias em uma antiga unidade do Wallmart, próxima da fronteira, que serve de casa a centenas de crianças imigrantes. A excursão foi rigorosamente controlada e o Departamento de Serviços Humanos e Saúde não permitiu que a imprensa fotografasse ou fizesse entrevistas em vídeo. Ao invés disso, um vídeo produzido pelo governo sobre o abrigo foi liberado.

+ Para entender: Daca, o programa migratório de Obama que foi suspenso por Trump

A visita ocorreu depois que um senador democrata tentou entrar em uma instalação federal no Texas, onde crianças imigrantes estão retidas. A polícia foi chamada e o senador Jeff Merkley, do Oregon, teve de deixar o local. Em outra instalação, usada para processar imigrantes e administrada pelo Departamento de Segurança Interna, ele afirmou ter visto homens, mulheres e crianças amontoados em jaulas. "Isso me lembra um pouco um canil, construído com cercas para ciclones", disse Merkley.

Segundo o procurador-geral, Jeff Sessions, a violência doméstica e das gangues nos países de origem dos imigrantes não os qualifica para buscar asilo nos Estados Unidos. Foto: John Moore/Getty Images/AFP

A Conferência de Bispos Católicos dos EUA também se manifestou, dizendo que os funcionários americanos têm poder para manter as famílias intactas. "Separar bebês de suas mães não é a resposta e é imoral", disse o cardeal Daniel DiNardo, presidente do grupo. A repreensão do cardeal atraiu a resposta de Sessions, insistindo que a política de separar famílias é necessária para impedir atravessamentos ilegais na fronteira.

+ Detenções de imigrantes nos EUA crescem quase 40% no governo Trump

Historicamente, imigrantes sem antecedentes criminais sérios foram libertados da custódia enquanto buscavam asilo ou o status de refugiados. A administração Trump mudou isso, detendo mais pessoas, incluindo as requerentes de asilo.

Legisladores ainda consideram várias ideias para evitar separações familiares, embora não seja garantido que alguma proposta possa obter apoio suficiente e ser aprovada.

Publicidade

Agentes da patrulha de fronteira pedem a requerentes de asilo que retirem seus acessórios de cabelo e alianças antes de levá-los sob custódia. As famílias de imigrantes foram encaminhadas a um centro de processamento e, provavelmente, foram separadas. Foto: John Moore/Getty Images/AFP

Para a deputada Nancy, se os republicanos realmente quiserem lidar com a questão da separação de famílias, podem levar uma proposta de lei ao plenário da Câmara em regime acelerado. Ela acrescentou que não vê nenhuma perspectiva para uma solução legislativa no Congresso, atualmente controlado por republicanos, em ano eleitoral. Ryan, do Winsconsin, disse que a Casa vai votar na próxima semana duas medidas de imigração, mas acrescentou que sua aprovação não é garantida. / AP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.