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Seqüestrador de avião queria desertar da guerrilha colombiana

Por Agencia Estado
Atualização:

Cansado de viver nas fileiras da guerrilha, um rebelde encarregado de informações confidenciais de segurança das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) seqüestrou um avião para escapar, relatou o piloto da aeronave. "Ele nos disse que conhecia a zona de distensão e que poderia sair a pé, mas seria preso, e a única coisa que desejava era sair do país", relatou hoje o capitão Jorge Durán, piloto do avião que foi seqüestrado ontem. A aeronave, da empresa Satena - um linha áerea militar que faz vôos comerciais - , com 31 pessoas a bordo, foi obrigada a decolar ontem à tarde de San Vicente del Caguán, um dos cinco municípios da zona desmilitarizada que o governo concedeu às FARC. "Em nenhum momento ele nos ameaçou, nem foi grosseiro. Aparentemente, era uma pessoa bastante culta pelo modo de falar", disse Durán em entrevista à cadeia de rádio RCN. O avião aterrissou uma hora depois no aeropporto de Bogotá, onde permaneceu estacionado por seis horas enquanto o guerrilheiro negociava com um delegado da Cruz Vermelha Internacional sua transferência para a Espanha. "Fazia muito calor, e as pessoas começaram a cansar-se e a entrar em desespero. Ele (o seqüestrador) voltou a ouvir notícias e, enquanto olhava a distância, um dos passageiros da parte traseira do avião o empurrou, ajudado por outros dois, e eu o segurei pelos pés, para imobilizá-lo", relatou o jornalista Jorge Enrique Botero, passageiro da aeronave. "O mesmo homem que o derrubou lhe tirou a arma, e todos (os demais passageiros) começaram a sair por onde podiam", disse Botero. Assim terminou o drama dos 31 ocupantes do avião, enquanto o seqüestrador era detido por ordem da Promotoria. Ele foi identificado pelos serviços de inteligência como Carlos Alberto Cuéllar, de 33 anos, estudante de engenharia. Segundo o piloto, "ele comentou que era encarregado da segurança de Los Pozos (sede dos diálogos de paz), na zona de distensão". "Ele disse que de início trabalhou para as FARC durante sete anos, e que há dois anos havia se incorporado às fileiras da guerrilha e se deparado com algo diferente do que imaginava" acrescentou. No ano passado, 149 guerrilheiros se apresentaram em guarnições militares para desertar - um aumento de 118% em comparação com 1999, segundo um informe do Exército divulgado esta semana. Cuéllar decidiu desertar no ano passado, quando seu pai morreu em Bogotá e o comando das FARC lhe negou permissão para assistir aos funerais paternos. Além disso, ele sofre de anemia profunda e doenças da selva. Este é o segundo caso de seqüestro aéreo na zona desmilitarizada. O primeiro foi o inverso: um guerrilheiro que estava preso seqüestrou um avião para reincorporar-se às FARC. O Procurador Geral Alfonso Gómez disse hoje que Cuéllar poderia receber indulto de sua possível condenação por seqüestro se colaborar com a Justiça, e que poderia participar do programa presidencial para reinserção de ex-guerrilheiros na vida civil.

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