Sérvia condena 4 em primeiro julgamento sobre massacre

Os ex-paramilitares são vistos em um vídeo executando seis homens muçulmanos na cidade de Srebrenica, em julho de 1995, durante a Guerra da Bósnia

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Por Agencia Estado
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Quatro ex-paramilitares sérvios foram condenados nesta terça-feira, 10, pela morte de seis pessoas durante a Guerra da Bósnia (1992-95), no primeiro julgamento realizado na Sérvia sobre o massacre que deixou cerca de 8 mil muçulmanos mortos no enclave de Srebrenica. Os acusados são vistos executando os seis homens em um vídeo datado de julho de 1995. As imagens vieram à tona durante o julgamento do ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic. O conflito foi o mais violento a atingir a Europa desde a 2º Guerra Mundial. O departamento especial de crimes de guerra do Tribunal de Belgrado ditou penas máximas de 20 anos de prisão para Slobodan Medic, comandante da unidade paramilitar "Scorpions", e Branislav Medic. Os dois foram os organizadores dessas execuções ocorridas em Trnovo, no leste da Bósnia. Pero Petrasevic, o único acusado que durante o julgamento reconheceu sua responsabilidade nos assassinatos, foi condenado a 13 anos, e Aleksandar Medic, a 5, por ajudar nas execuções. Um quinto acusado, Aleksandar Vukov, foi inocentado por falta de provas. Os cinco paramilitares foram acusados de terem transportado os seis muçulmanos presos - três deles menores de idade - em um caminhão até os escombros de uma casa incendiada em Trnovo, onde primeiro executaram quatro deles com disparos nas costas. Os outros dois foram obrigados a levar os cadáveres de seus companheiros para um galpão atrás do edifício, onde também foram fuzilados. Vídeo O assassinato dos seis muçulmanos de Trnovo foi conhecido em junho de 2005, quando a Promotoria do Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPII), com sede em Haia, exibiu um vídeo das execuções que tinha sido filmado pelos próprios militares. A exibição do vídeo pelas televisões na Sérvia causou comoção, e as autoridades detiveram vários suspeitos imediatamente. Em outubro foi apresentada a acusação e o processo judicial começou em dezembro daquele ano. Julgamentos de criminosos de guerra só se tornaram possíveis na Sérvia depois da saída de Milosevic do poder, em 2000. Nesse contexto, o caso de Srebrenica é um teste importante para se comprovar a autonomia do judiciário do país. Parentes Apesar da vitória relativa dos setores que pediam punição exemplar para os criminosos, os familiares das vítimas do massacre criticaram as sentenças, argumentando que elas não foram duras o bastante e não trouxeram a justiça. "Eles mataram crianças e um deles foi solto e o outro sentenciado a cinco anos", disse Safeta Muhic, irmã de uma das vítimas. "Eu não estou satisfeita, e nunca estarei." O veredicto segue uma decisão do mais alto tribunal da ONU, a Corte Internacional de Justiça de Haia, na Holanda, que concluiu que a Sérvia não foi responsável direta pelo genocídio cometido em Srebrenica. O massacre Cerca de 8 mil homens e meninos muçulmanos foram assassinados depois de as tropas servo-bósnias tomarem o enclave de Srebrenica - um protetorado muçulmano da ONU -, em julho de 1995, poucos meses antes do fim dos três anos e meio de guerra na Bósnia. Os principais acusados de genocídio pelo TPII em relação ao massacre de Srebrenica - o ex-líder político servo-bósnio Radovan Karadzic, e o comandante militar, general Ratko Mladic - ainda continuam foragidos. A captura e entrega dos dois à Justiça internacional é a principal condição para que a Sérvia e a Bósnia possam progredir rumo à União Européia (UE). Texto ampliado às 17h45

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