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Sete milhões votam na 'antipolítica'

Movimento fundado pelo ex-comediante Beppe Grillo torna-se a terceira força política na Itália e cria mal-estar entre partidos 'sérios'

Por JAMIL CHADE e ROMA
Atualização:

Fartos dos políticos tradicionais como Pier Luigi Bersani, da austeridade de Mario Monti e não acreditando nos milagres propostos por Silvio Berlusconi, mais de 7 milhões de italianos votaram ontem pelo movimento "antipolítico" criado por Beppe Grillo, transformando o comediante na terceira maior força do país e criando um mal-estar entre os partidos tradicionais. Se em 1994 Berlusconi tomou a Itália com o poder da televisão, 20 anos depois foi a vez de Grillo usar quase que exclusivamente os meios digitais para ganhar apoio. Com um eleitorado essencialmente jovem, Grillo surpreendeu até mesmo os mais otimistas em relação à sua campanha, na primeira vez que concorreu nas eleições gerais. Apesar dos votos, Grillo diz que não ocupará um lugar no Parlamento e as cadeiras obtidas ficarão para seus aliados."Nossos eleitores mandaram um recado duro: basta de mentiras e de roubos", disse. Suas propostas mais radicais são cortar salários de políticos, o fim de subsídios a partidos e a saída da zona do euro. Não faltaram os analistas e mesmo políticos que apontaram que Grillo seria cortejado para formar uma aliança com o Partido Democrático. Ontem, ele mesmo fez questão de alertar que não está disposto a isso. "Estou cansado. Em três anos nos transformamos no maior partido da Itália. Ninguém pode nos vencer", disse Grillo, já de olho nas próximas eleições.Para ele, só há uma solução para superar a crise política estabelecida ontem: a formação de uma aliança entre Pier Luigi Bersani e Silvio Berlusconi. Para analistas, sua receita é irônica, já que sabe que esse casamento não duraria e forçaria a Itália a realizar novas eleições, para o benefício de seu movimento. Ainda assim, Grillo determinou que ele não deve ocupar um lugar no Parlamento depois que matou três pessoas em um acidente de carro.Além do voto de protesto, outra marca da eleição foi a queda no comparecimento às urnas, bem inferior às taxas de 2008. Naquele ano, 82% dos italianos foram votar. Desta vez, só 74%. Nos centros de votação em Roma visitados pelo Estado, o clima não era de festa. "A crise na Itália é muito séria", disse a aposentada Anna Maria Scola. "Iremos para mais uma eleição em três meses, vocês verão", disse Carlo, um engenheiro de 27 anos desempregado. "Não há vencedores nesta eleição", completou.

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