PUBLICIDADE

Sétimo brasileiro morre em ação israelense no Líbano

Dib Barakat, ex-subprefeito de Riacho Grande, em São Bernardo do Campo, foi morto em um bombardeio contra a fábrica que administrava

Por Agencia Estado
Atualização:

A ofensiva israelense contra alvos no Líbano deixou mais um brasileiro morto ontem, elevando para sete o número de vítimas brasileiras no conflito, iniciado na semana passada. Ex-subprefeito de Riacho Grande, em São Bernardo do Campo, Dib Barakat tinha 60 anos, e deixou o Brasil para escapar da violência da Grande São Paulo. Barakat possuía uma fábrica de móveis na cidade de Sultan Yacob, na região do Vale do Bekaa, e estava trabalhava no momento em que as instalações foram atingida por três mísseis. Outras cinco pessoas ficaram feridas, segundo moradores da cidade. ?Era umas 8h15 quando sentimos a casa tremer. Minha mulher, que estava na janela, me chamou e apontou em direção à fábrica?, relatou o empresário paulista Mohamad Abduni, que mora na cidade. A fábrica de Barakat fica a cerca de um quilômetro da residência de Abduni. Cerca de duas horas após o ataque, durante o enterro de Barakat, uma nova bateria de mísseis atingiu as proximidades do cemitério da cidade. Cerca de 500 pessoas acompanhavam a cerimônia. "Meu cunhado, que está no Líbano, chegou a se esconder em uma cova com medo do bombardeio?, lamentou inconformada a cunhada de Barakat, Suad, que vive no Brasil. Ela conta que próximo à cidade de Sultan Yacob, na comunidade de Luci, ?até quem nunca veio para o Brasil fala português?. ?Por que bombardear um enterro? Por que bombardear Luci, que só tem brasileiros? Não entendo como podem destruir um país inteiro por causa de dois soldados?, desabafou. Para Abduni, o que motivou o ataque israelense que vitmou Barakat foi a chegada de um caminhão carregado com madeira à fábrica, na terça-feira. Segundo ele, a inteligência israelense tem ordenado o bombardeio de caminhões que circulam pela região, pois suspeitam que os veículos estejam a serviço do Hezbollah. Cidade em pânico Os ataques israelenses, explica Abduni, fizeram com que toda a população da pequena Sultan Yacob se fechasse dentro de suas casas. Entre os brasileiros, muitos querem deixar a região. O problema é que as representações do Brasil na região não dão conta da grande quantidade de pessoas que procuram ajuda para voltar para o Brasil. Só em Sultan Yacob, 250 se cadastraram na lista para uma possível retirada. Estima-se que mais de 70 mil cidadãos brasileiros vivam no Líbano. Ainda assim, apenas pouco menos de 90 voltaram ao País após o envio de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para a região - o Boing 707 apelidade de ?Sucatão?. ?Enquanto os Estados Unidos retiram seus cidadãos com navios de guerra, eles nos enviam o Sucatão?, critica a cunhada do brasileiro morto. Além da morte do parente, Suad tem ainda que lidar com a impossibilidade de retorno de outros familiares, entre eles seus pais, uma filha e dois netos. Menos radical nas críticas ao governo, o vice-representante da Comunidade Islâmica no Brasil, xeque Jihad Hassan, contou que membros do grupo estão trabalhando junto ao governo para auxiliar na retirada dos brasileiros em situação de risco no Líbano. Em visita à casa da família Barakat, ele explicou que a situação começa a ficar grave também nos países vizinhos ao Líbano, em especial na Jordânia e Síria, onde centenas de brasileiros procuraram refúgio. ?Muitos deixaram suas casas sem dinheiro, só com a roupa do corpo, e não tem onde ficar nesses países?, resume. Mortes anteriores Com as mortes desta quarta-feira, já são sete os brasileiros mortos no Líbano desde os primeiros ataques israelenses há uma semana. Israel iniciou uma ofensiva contra o país vizinho depois que dois soldados israelenses foram capturados por guerrilheiros do Hezbollah na fronteira entre os dois países na quarta-feira passada. Na terça-feira, um menino brasileiro de sete anos foi morto vítima de um bombardeio israelense na localidade de Tallousa, no sul do Líbano. A mãe e um irmão de 4 anos do garoto também ficaram feridos na ação. No domingo, Rodrigo Aiman, de 34 anos, pai de dois adolescentes e morador e lojista do Brás, em São Paulo, foi morto junto com outras 30 pessoas na cidade de Tiro, também no sul do país. Na semana passada, uma família de 4 pessoas também foi vítima dos ataques. De acordo com estimativas do consulado do Brasil em Beirute, 70 mil cidadãos brasileiros vivem no Líbano, formando a maior comunidade estrangeira do país. Também na terça-feira, um avião da Força Aérea Brasileira chegou ao País trazendo 98 pessoas - cinco argentinos, oito libaneses naturalizados brasileiros e 85 brasileiros natos - que deixaram o Líbano fugindo do conflito. Texto atualizado às 20h

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.