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Setor aéreo prepara-se para "ano catastrófico"

Por Agencia Estado
Atualização:

As empresas áereas americanas deixaram de faturar US$ 1 bilhão na semana passada por causa do fechamento do espaço aéreo americano por quase três dias, depois dos atentados terroristas contra o World Trade Center e o Pentágono. Mas seus prejuízos podem chegar a US$ 10 bilhões até o fim do ano - três vezes mais do que as perdas previstas, por causa da desaceleração da economia, antes dos ataques que transformaram os aviões comerciais em bombas guiadas por sequestradores-suicidas. Diante do desaparecimento da confiança do público na segurança da aviação comercial e com a recessão dada agora como certa, analistas e executivos do setor disseram ontem que as companhias aéreas só sobreviverão com a assistência financeira do governo federal e a proteção garantida pelas lei de concordata. Numa ilustração das implicações do trauma provocado pelos ataques, discute-se a desativação do aeroporto nacional de Washington, por motivos de segurança. "Antes dos ataque, estávamos nos preparando para um ano desastroso; agora que perdemos a confiança do público viajante, teremos um ano catastrófico", disse Gordon Bethune, presidente da Continental Airlines. Quinta maior empresa da indústria, na sexta-feira a Continental anunciou uma redução de 20% de seus serviços e demitiu 12.500 funcionários. Bethune afirmou que o governo federal terá que assistir o setor "se quiser que o País continue a ter uma indústria de transporte aéreo, que é vital para o comércio e a economia". Segundo ele, sem ajuda, a Continental poderá pedir concordata já no mês que vem. Ontem, o vice-presidente Dick Cheney, disse que a administração está aberta a discutir um pacote de socorro à indústria. Mas ele não esclareceu se o executivo apoiará projeto de lei introduzido na sexta-feira na Câmara de Representantes, propondo uma injeção de US$ 2,5 bilhões nos cofres das empresas, para compensar as perdas imediatas, mais US$ 12,5 bilhões em garantias de crédito para ajudar a indústria a enfrentar um crise sem precedents, cuja solução depende da restauração da confiança dos americanos na segurança da aviação comercial. A medida deve voltar ao debate hoje. A expectativa dos analistas é que as ações das empresas aéreas desabarão hoje, no primeiro dia de atividades da Bolsa de Valores de Nova York depois dos atentados. Com isso em mente, o secretário dos Transportes, Norman Mineta, convocou para hoje uma reunião em Washington com os presidentes das companhias aéreas, para discutir a assistência financeira à indústria e as medidas necessárias para convencer o americanos a voltar a viajar de avião. O presidente da Delta, Leon Mullin, disse que o setor apóia a nacionalização da segurança nos aeroportos, hoje entregue a empregados mal remunerados de empresas privadas, e a criação de uma polícia federal especializada na inspeção de passageiros e bagagem, como existe em vários países da Europa. Mullin e Bethune, que foram entrevistados pela rede ABC, disseram também que estão dispostos a discutir o uso de agentes de segurança armados em vôos, como faz a companhia israelense El-Al, considerada a mais ameaçada e a mais segura do mundo - uma idéia a que as companhias resistiram no passado. As medidas já anunciadas confirmam que o impacto dos atentados terroristas para a aviação comercial americana será imenso.Dado o enorme peso que ela tem no transporte mundial de passageiros e de carga, as companhias aéreas de vários países, inclusive do Brasil, poderão ser severamente afetadas. Ontem, as quatro maiores empresas do setor - a American e a United Airlines, que perderam quatro boeings 767 e 757 nos ataques, e a Delta e a Northwestern - também anunciaram cortes de 20% em seus serviços e iniciaram planos de redução de pessoal que podem tirar o emprego de mais de 100 mil pessoas. Até terça-feira passada, essas companhias respondiam por cerca de 70% do tráfego aéreo nos EUA. A Southwest, uma empresa de porte médio, propôs a seu empregados um corte de 25% nos salários. E a Midway, uma companhia menor, que já estava em processo de pedir concordata, fechou as portas. Além de sofrer todas as consequências dos ataques terroristas que as demais empresas enfrentam, a U.S. Airways, que também prepara para encolher suas atividades por uma razão adicional. O Aeroporto Nacional Ronald Reagan, o mais importante e mais próximo de Washington, onde a empresa é a maior operadora, continúa fechado e poderá ser desativado por longo período por causa de sua proximidade da Casa Branca, no Pentágono e de outros prédios federais. O aeroporto, que é federal, foi reinaugurado em 1998 depois de uma reforma e ampliação que custou centenas de milhões de dólares. Segundo fontes oficiais, se for reaberto, o National ofecerá um número limitado de vôos: os aviões não poderão mais decolocar ou pousar pela rota de aproximação noroeste, que usa o rio Potomac como referência, pois esta coloca os aviões a menos de dois minutos de alvos potenciais para sequestradores-suicidas, como a Casa Branca, o Pentágono, a sede da CIA, do Congresso, da Suprema Corte e de todos os ministérios e grandes museus e monumentos nacionais da capital.

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