O presidente do Peru, Pedro Castillo, escapou de um processo de impeachment, mas não terá um caminho fácil pela frente, acredita o analista político peruano Fernando Tuesta.
A parcela mais radical da direita peruana deve continuar se posicionando ferozmente contra Castillo, à espera de uma segunda oportunidade para tentar destituir o esquerdista. Confira a entrevista completa:
Foi uma surpresa o pedido de impeachment ter sido barrado?
Na verdade havia muita incerteza. Era possível haver os 52 votos (para levar o processo adiante), mas no último domingo um programa de TV opositor ao governo anunciou que publicaria áudios contundentes contra Castillo, não os publicou e foi muito criticado. Com isso, muitos que disseram que votariam pela continuidade do processo voltaram atrás e a votação contra a denúncia para levar ao impeachment era esperada.
Como o presidente conseguiu o apoio necessário?
Castillo realizou uma série de reuniões com líderes de partidos, o que não havia feito desde o começo de seu mandato pessoalmente. Além disso, é preciso lembrar que para aprovar o impeachment, em um segundo momento, seriam necessários 87 votos e isso a oposição não conseguiria. Alguns (congressistas) acreditam que não era o momento de apresentar uma moção.
Como fica o equilíbrio das forças do Executivo e Legislativo?
Castillo tem sido um presidente débil. Não apenas por não ter uma bancada significativa, tem 37 congressistas de 130, mas destes só conta mesmo com o apoio de 20.
Como a oposição deve atuar a partir de agora?
O setor da extrema direita vai continuar sendo um opositor tenaz e, com certeza, vai tentar uma segunda moção de impeachment quando tiver a oportunidade. Desde o primeiro dia, eles disseram que não querem o presidente Castillo.
Novos pedidos de impeachment podem ser apresentados?
Não há prazos, podem ser apresentados em qualquer momento, mas, na verdade, é uma medida totalmente descabida. Essa questão de ‘incapacidade moral permanente’ tinha relação com a capacidade psíquica no século 19 e passou a ser usada de forma desnaturalizada. Éa quinta vez que se usa dessa forma desde 2016. Se Castillo tivesse sido retirado do poder seria o quinto presidente em cinco anos.