Seul estuda repor armas dos EUA na fronteira

Diante de evolução do programa atômico da Coreia do Norte, Sul considera reinstalar equipamento nuclear retirado nos anos 90

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Por Denise Chrispim Marin CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

A Coreia do Sul está considerando reinstalar as ogivas nucleares dos Estados Unidos, retiradas de seu território no início dos anos 90, após a revelação de um surpreendente potencial atômico alcançado pela Coreia do Norte. Ontem, no Congresso sul-coreano, o ministro da Defesa Kim Tae-young admitiu a hipótese e informou que a questão será discutida com os americanos na próxima reunião, no próximo mês, do Comitê de Políticas de Extensão da Dissuasão, grupo militar bilateral voltado para a questão nuclear."O governo vai considerar o que o senhor disse", afirmou Kim, ao ser questionado por um parlamentar sobre a reinstalação das ogivas e outros artefatos nucleares como meio de dissuasão ou de resposta a um ataque. As Coreias do Norte e do Sul entraram em guerra em 1950. Um cessar-fogo encerrou os combates em 1953, mas um acordo de paz não foi assinado até hoje.Na prática, a instalação das ogivas reviverá o temor de uma tragédia nuclear na Península Coreana, vivida até o início dos anos 90. Também poderia alimentar temores e suspeitas em parceiros com os quais os EUA pretendem manter uma agenda mais construtiva em termos de segurança, como China e Rússia. Na semana passada, o ex-diretor do laboratório nuclear americano de Los Alamos Siegfried Hecker - atualmente professor da Universidade Harvard - disse que há "centenas e centenas" de centrífugas que foram instaladas em período recorde na Coreia do Norte e são operadas de uma "ultramoderna sala de controle", conforme entrevista ao New York Times. O cientista, convidado pelo governo norte-coreano para visitar suas instalações nucleares, colheu a informação oficial de que o país já colocou em operação 2 mil centrífugas, fundamentais no processo de enriquecimento de urânio.As revelações surpreenderam autoridades militares dos EUA, da Coreia do Sul e do Japão, tanto pelo aspecto da sofisticação das usinas nucleares norte-coreanas quanto pelo fato de as centrífugas terem sido instaladas em curto período de tempo. Hecker também sugere ter havido transferência de equipamentos e de tecnologia sensível pela China, prática considerada como proliferação nuclear.Em dezembro, além das conversas com as autoridades militares americanas, o ministro da Defesa sul-coreano deverá tratar da nova ameaça com seu colega japonês, Toshimi Kitazawa, segundo o jornal Yomiuri. Uma das propostas em estudo seria a elaboração de um pacto bilateral para a troca de segredos militares. Esses dois países - alvos imediatos de Pyongyang - têm acordos similares com os EUA.PARA LEMBRAROs EUA mantiveram ogivas nucleares na Coreia do Sul por 33 anos. As primeiras foram instaladas em 1958, cinco anos após o fim dos combates com a Coreia do Norte. Os EUA retiraram as ogivas em dezembro de 1991 da Coreia do Sul e de outros países, como parte de uma iniciativa de desarmamento do governo de George H. Bush.

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