Sharon acusa palestinos de se esconderem atrás de crianças

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Por Agencia Estado
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O primeiro-ministro Ariel Sharon acusou hoje palestinos de colocarem intencionalmente a vida de suas crianças em risco na luta contra Israel, enquanto angustiados moradores de Gaza enterravam uma menina palestina de quatro meses morta no dia anterior por tropas israelenses. Numa entrevista coletiva que sublinhou o abismo que existe entre os dois lados, Sharon rechaçou iradamente exigências da suspensão de novas construções em assentamentos judeus em troca de uma trégua, dizendo que os israelenses "não deveriam ter de pagar a fim de não serem mortos". Cerca de 100 km a sudoeste, no campo de refugiados de Deir el Balah, na Faixa de Gaza, o ódio contra Israel estava fervilhando enquanto milhares de pessoas participavam do enterro de Iman Hijo, seu pequeno corpo envolto numa mortalha branca e coberto de flores. Pessoas gritavam "Longa vida à Palestina" enquanto atiradores disparavam para o ar. Mais cedo, parentes rumaram para a casa da família, onde o corpo de Iman - a mais jovem vítima em mais de sete meses de confrontos - estava estendido num sofá. Seu soluçante pai, Mohammed, 21 anos, um policial palestino que tem usado muletas desde que foi ferido há três meses num confronto com tropas israelenses, curvou-se para beijar sua filha e chorar. "Quero cuspir na cara deste mundo horrível", disse ele antes da procissão fúnebre partir pelas ruas do campo de refugiados. "Não queremos negociações - queremos bombas explodindo em ônibus!" gritava a multidão. A mãe de 19 anos da menina, sua avó e três outras crianças pertencentes à família ficaram seriamente feridas por estilhaços quando um disparo de artilharia caiu no pequeno quintal da casa da família no campo de refugiados de Khan Yunis, na Faixa de Gaza, na segunda-feira. O bebê sofreu ferimentos fatais no tórax e costas. O bombardeio israelense foi em resposta a disparos de morteiros palestinos. Na Associação da Imprensa Estrangeira em Jerusalém, Sharon lamentou enfaticamente a morte da menina, mas culpou os palestinos por colocarem suas crianças em situações perigosas. "Eles fazem isso freqüentemente", disse ele. "Eles colocam seus morteiros ao lado de escolas... e desaparecem imediatamente. Isso ocorreu várias vezes (e) isso foi o que aconteceu desta vez. Os soldados, depois que uma de nossas comunidades foi atingida por disparos de morteiro, (dispararam) contra o local onde o morteiro havia sido colocado". "Todos entendem que crianças não deveriam estar no front, e pessoas armadas, terroristas armados, não deveriam agir ou atirar por trás de crianças... Todo país que tem algum valor moral entende isso". Sharon também acusou o líder palestino Yasser Arafat de lançar uma ofensiva apesar das "muito corajosas" ofertas do ex-premier Ehud Barak - que Sharon, então líder da oposição, rejeitou - de um Estado palestino na maior parte da Cisjordânia, Gaza e partes de Jerusalém Oriental. "O fogo tem de parar, e o responsável são Yasser Arafat e a Autoridade Palestina... Depois que a calma for restaurada, começamos as negociações". Entretanto, Sharon tem dito que vai oferecer aos palestinos pouco além dos 40% da Cisjordânia e dois terços de Gaza que eles já controlam. Sharon afirmou que Arafat não será alvejado por comandos israelenses. "Não estamos dando qualquer passo contra líderes políticos. Então, se você pergunta se ele (Arafat) está seguro em relação ao nosso lado - sim, ele está seguro em relação ao nosso lado", disse Sharon. "Mas eu não sei se somos o único perigo que existe para ele." Recentemente, os palestinos acusaram Israel de alvejar para matar mais de uma dezena de ativistas suspeitos de envolvimento em ataques contra isralaelenses. Israel admitiu ser responsável por algumas dessas mortes. Na Cisjordânia, o corpo de um colono judeu, Arie Arnaldo Agranionich, imigrante brasileiro de Erexim, RS, foi encontrado hoje nas proximidades do assentamento de Itamar. A vítima, guardando o pomar da colônia, foi esfaqueada e baleada, informou a polícia. Num telefonema à tevê por satélite Al Jazeera, baseada em Catar, um grupo palestino assumiu responsabilidade pelo assassinato. Também hoje, um palestino de 16 anos morreu dos ferimentos sofridos na semana passada em confrontos com soldados israelenses em Gaza. Desde setembro, nos confrontos já morreram 437 palestinos e 73 israelenses.

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