Sharon teme ser acusado de crimes de guerra por Jenin

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Por Agencia Estado
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A decisão do governo israelense de "bloquear" a missão das Nações Unidas que busca investigar o que ocorreu no campo de refugiados de Jenin é resultado do temor de sofrer sanções internacionais e terminar perante um tribunal por crimes de guerra. O primeiro-ministro Ariel Sharon e seus colaboradores mais próximos querem que o mandato da comissão investigadora seja estendido para "a atividade de grupos terroristas refugiados no campo", mas não para toda a operação "Muralha de Defesa", e que seja integrada por militares e especialistas em terrorismo. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, confiou a presidência da missão ao ex-presidente finlandês Martti Ahtisaari e designou como membros o suíço Cornelio Sommaruga - ex-presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha - e a japonesa Sadako Ogata, ex-Alta Comissária da ONU para os Refugiados. Como assessores militares e policiais foram nomeados, respectivamente, o general da reserva americano William Nash e o irlandês Peter Fitzgerald. Para Israel, a comissão não é equilibrada nos aspectos humanitários e não quer que, pelo menos, Sommaruga esteja presente. Israel acusa Sommaruga de ter comparado a Estrela Vermelha de Davi - símbolo equivalente ao da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho - à suástica nazista. Organizações humanitárias internacionais acusam as forças de Israel de terem cometido sérias violações dos direitos humanos em Jenin, onde os palestinos afirmam que houve um massacre. A Anistia Internacional denunciou explicitamente "violação dos direitos humanitários" e "crimes de guerra", e acusou os militares israelenses de não terem dado tempo para a retirada dos civis, "impedido por 13 dias a assistência aos feridos e atacado deliberadamente ambulâncias", desrespeitando a Convenção de Genebra. O Estado judeu correria o risco de sofrer sanções internacionais, mas a capacidade da ONU de fazer respeitar suas resoluções, sobretudo pelos israelenses, tem sido até agora modesta. Sharon - segundo fontes próximas a ele - teme também que seu governo termine sendo julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) para crimes de guerra. Na verdade, como revelou recentemente Antonio Cassese, ex-presidente do TPI para a ex-Iugoslávia, a Corte de Haia tem um papel secundário e, por ele, pode intervir apenas quando os militares acusados de terem cometido abusos não forem julgados por tribunais militares nacionais. Mas, para Sharon, Jenin é uma perigosa espada de Dâmocles (presa ao teto, sobre a cabeça do rei, por uma fina crina de cavalo), sobretudo no plano internacional. Se os "horrores" denunciados por várias fontes se confirmarem, voltarão os fantasmas de Sabra e Chatila, os campos de refugiados palestinos no Líbano palcos de sangrentos massacres em 1982 durante a invasão israelense - comandada por Sharon.

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