Simpatizantes do governo do Irã convocam manifestação na sexta-feira

Após conflito com opositores, grupo pede 'demonstração de ódio' aos dissidentes

PUBLICIDADE

Atualização:

TEERÃ - Manifestantes simpáticos ao governo do Irã convocaram uma manifestação em apoio ao regime para a próxima sexta-feira. Nesta quarta, 16, grupos de oposição e apoiadores do governo se enfrentaram durante o funeral de um estudante morto nos protestos que ocorrem no país desde a segunda-feira.

 

 

Em comunicado, o Conselho de Coordenação da Publicidade Islâmica, aliado do governo em Teerã, pede que, após o sermão religioso da sexta-feira, os iranianos "mostrem seu ódio aos 'líderes da sedição (incitação ao tumulto)'". A mensagem se refere aos líderes da oposição e ex-candidatos presidenciais Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karroubi, que estão em prisão domiciliar. O conflito entre simpatizantes e contrários ao governo teve início porque representantes de ambos os grupos afirmavam que o estudante morto era um de seus correligionários. O confronto ocorreu durante o cortejo fúnebre do estudante Saneh Jaleh, que teve início na Universidade de Teerã, no centro da capital, segundo a agência de notícias oficial iraniana IRIB. A agência oficial não deu informações sobre feridos. O repórter da BBC Mohsen Asgari, que participou do cortejo, disse não ter visto confrontos mais graves, mas acrescentou que a polícia bloqueou todas as ruas que davam acesso à universidade e só estava permitindo a entrada de simpatizantes do governo. Jaleh, de 26 anos, foi uma das duas pessoas mortas durante os protestos da segunda-feira. As manifestações foram as primeiras realizadas no país em mais de um ano e as maiores no Irã desde 2009, quando grupos opositores foram às ruas para protestar contra supostas fraudes ocorridas nas eleições presidenciais que reelegeram Ahmadinejad.

 

Os protestos reuniram milhares de pessoas e reforçaram a onda de manifestações antigovernos que está varrendo diferentes países árabes e muçulmanos. As manifestações populares tiveram início na Tunísia em dezembro passado e provocaram a deposição do então presidente do país, Zine al-Abidine Ben Ali, no final de janeiro. Na semana passada, uma série de manifestações provocou a renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak. Nos últimos dias, também foram realizado protestos no Barein, que já deixaram três pessoas mortas, e manifestações na Argélia, Iêmen e Jordânia.

 

Leia mais:linkGrupos se enfrentam em funeral no Irãlink 'Protestos dos inimigos do Irã fracassarão', diz Ahmadinejadlink Deputados pedem a morte de opositores no Irã'Lugar algum' Mahmoud Ahmadinejad afirmou em uma entrevista à TV local que os protestos da oposição realizados em várias cidades do país no início da semana "não vão a lugar algum" e prometeu punir os seus organizadores. O presidente iraniano afirmou, durante a entrevista, que "inimigos" estão tentando "manchar o esplendor da nação iraniana". Na semana anterior, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, havia elogiado os protestos no Egito e os comparado à Revolução Islâmica de 1979 no Irã. Dezenas de pessoas foram presas após os protestos e vários líderes da oposição, entre os quais Mir Hossein Mousavi e Mahdi Karroubi, foram colocados em prisão domiciliar. Na terça-feira, parlamentares iranianos aliados ao governo pediram que Mousavi e Karroubi fossem julgados e executados por terem convocado os protestos. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, criticou duramente a resposta das autoridades iranianas aos protestos. "Acho irônico que você tenha o regime iraniano pretendendo celebrar o que aconteceu no Egito, quando de fato eles agiram em contraste direto com o que aconteceu no Egito ao abater e golpear pessoas que estavam tentando se expressar pacificamente", disse o presidente americano. Obama afirmou que os Estados Unidos não podem determinar o que acontece dentro do Irã, mas que esperava que as pessoas tivessem "a coragem de serem capazes de expressar sua nostalgia por uma maior liberdade e por um governo mais representativo".

 

BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.