A presidente Cristina Kirchner enfrentou ontem um protesto organizado pelo setores rebeldes da Confederação-Geral do Trabalho (CGT) e da Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA) em Buenos Aires. Os sindicalistas cobraram melhores salários, reduções de impostos e criticaram o governo. Para analistas, o afastamento entre o kirchnerismo e essas facções é o início de uma luta interna peronista para a sucessão da presidente.Os líderes das duas principais centrais sindicais argentinas, Hugo Moyano e Pablo Micheli, também reclamaram da perda do poder aquisitivo diante da escalada da inflação, estimada pelos institutos privados em 25%. Os dados oficiais apontam alta de 10%."Esse protesto é para reclamar ao governo a mudança da tabela de impostos sobre os salários, a universalização dos planos sociais familiares e um aumento de emergência para os aposentados e planos de saúde dos sindicatos", disse ao Estado o presidente da União Argentina de Trabalhadores Universais e Estivadores (Uatre), Gerônimo Venegas, da CGT. "O lamentável é que o povo continua sem ser ouvido."As centrais acusam a presidente de ter se afastado dos princípios peronistas. Com uma lista ampla de reivindicações, a manifestação tentou capitalizar a insatisfação de parte da sociedade argentina com o governo. A popularidade de Cristina está em torno de 30%. Moyano tem pretensões políticas e não nega desejar que "um trabalhador chegue ao poder", como ocorreu no Brasil, com Luiz Inácio Lula da Silva. Frequentemente, o líder sindical recorre ao exemplo de Lula para defender a construção de sua possível candidatura.A passeata também criticou a batalha judicial entre o governo e o Grupo Clarín, a principal holding multimídia do país e crítico da presidente. "Alertamos porque a Corte Suprema tenta ter autonomia, mas o Poder Executivo insiste para seja emitida sentença em seu favor", disse Micheli.Para o sociólogo argentino Enrique Zuleta Puceiro, analista político da consultoria OPSM, o protesto de ontem foi importante no que se refere aos espaços internos de poder do peronismo. "Está se formando um cenário de sucessão no peronismo", afirmou ao Estado.