Sindicatos interrompem diálogo com Duque e convocam nova greve geral na Colômbia

Morte de manifestante ferido por batalhão de choque da polícia em manifestações da semana passada se torna novo elemento de crítica ao governo

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Por Redação
Atualização:

BOGOTÁ - Apesar de avanços nas demandas sobre a reforma tributária, sindicatos e estudantes convocaram para esta quarta-feira, 27, uma nova manifestação e greve geral na Colômbia para exigir “uma negociação permanente até que a pauta pela qual a greve de 21 de novembro foi convocada seja resolvida”. Na manhã desta terça, 26, o Comitê Nacional de Greves esteve reunido com o presidente Iván Duque juntamente com líderes empresariais.

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"Estamos fazendo uma mobilização nacional e isso será aprofundado com a convocação para amanhã (quarta-feira). As mobilizações ocorrem para que haja uma negociação, para construir acordos com o governo", afirmou ao Estado Julio Roberto Gómez, presidente do CGT (Confederação Geral do Trabalho). 

Líderes do comitê interromperam o encontro pedindo que Duque se encontre com eles sem incluir líderes de outros setores, mas o presidente colombiano afirma que o debate deve envolver toda a sociedade.

O governo tentou manter a ordem no país ao prender 172 pessoas nos dois primeiros dias de mobilizações Foto: Luis Robayo / AFP

A convocação para a nova greve desta quarta tem também outra motivação: a morte do jovem Dilan Cruz, manifestante que estava em coma desde sexta-feira após ser ferido por um cilindro de gás lacrimogêneo na cabeça, disparado por um agente do do Esquadrão de Motim Móvel (Esmad) - batalhão de choque da polícia. Na ocasião, 250 mil pessoas saíram às ruas no segundo dia de marchas contra as políticas econômica e social do governo Duque. 

Segundo Elias Fonseca, membro do comitê executivo da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT), a morte de Cruz coloca uma nova reivindicação em pauta: o desmantelamento do Esmad. "Hoje estamos de luto, estamos feridos por essa situação. Mas estamos avançando, pois o governo de Duque não atendeu aos pedidos dos trabalhadores ou de todos aqueles que se envolveram na organização da greve nacional do último dia 21 de novembro",afirmou Fonseca.

Cruz se tornou a primeira vítima de violência policial no país desde o início dos protestos, na última quinta-feira, e se junta a outras três mortes em tumultos naquele mesmo dia nas cidades de Buenaventura e Candelaria, no Departamento (Estado) de Valle del Cauca.

Reforma tributária

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Após a reunião de duas horas com o Comitê Nacional de Greve, Duque anunciou que a proposta de reforma tributária será modificada para devolver o Imposto sobre Valor Agregado aos 20% mais pobres da Colômbia e diminuir as contribuições para a saúde dos pensionistas que recebem o salário mínimo — metade da população aposentada — de 12% para 4% durante três anos. Também haverá três dias por ano sem IVA.

As propostas custarão cerca de 3,2 trilhões de pesos (US$ 931 milhões), informou o governo. Para Gómez, os anúncios de hoje são benéficos para os trabalhadores, mas não é o suficiente. "Ele faz parte das nossas reivindicações."

Duque nega apoiar planos econômicos — entre eles uma redução do salário mínimo para os jovens — citados como razões para a mobilização de muitos manifestantes.

As centrais de trabalhadores afirmam que o governo está preparando um pacote de reformas que causará forte impacto econômico e social sobre os trabalhadores, como a eliminação do fundo de pensão estatal Colpensiones, o aumento da idade da aposentadoria e a contratação de jovens com salários abaixo do mínimo, entre outras medidas.

Os manifestantes também criticam o que chamam de falta de ação governamental para deter o assassinato de centenas de ativistas dos direitos humanos e pediram que Duque implante em sua totalidade o acordo de paz firmado em 2016 com a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

"Queremos melhores condições para os trabalhadores e a garantia de que o governo vai cumprir os acordos fechados com diferentes setores da população, como os indígenas e o setor agropecuário", explica o presidente da CGT. / EFE e REUTERS, com Fernanda Simas 

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