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Sintomas indicam o uso de gás sarin na Síria

Para especialistas, há poucas dúvidas sobre o tipo de agente usado em massacre

Atualização:

Nos hospitais superlotados de Damasco na quarta-feira, pessoas se retorciam no chão aos gritos enquanto mortos lotavam os corredores. Médicos e enfermeiras tentavam reviver as vítimas esfregando cebolas cortadas na pele e despejando água fria sobre os afetados que se contorciam.

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O número oficial de mortos seria de 63. Mas, se as informações de membros da oposição forem corretas, cerca de 1.300 pessoas teriam morrido no ataque que provavelmente utilizou com gás sarin contra civis.

Vídeos chocantes foram exibidos no YouTube. Neles, crianças eram a maior parte dos mortos. As imagens já tiveram consequências políticas, com os governos de todo o mundo reagindo com horror. O Conselho de Segurança da ONU exigiu "clareza" sobre o uso de armas químicas, mas não chegou a um acordo sobre uma investigação.

Especialistas concordam que as inúmeras fotos, vídeos e relatos de testemunhas deixam poucas dúvidas de que ocorreu um ataque com armas químicas. "As imagens são terríveis e alarmantes", disse Alastair Hays, da Universidade de Leeds.

Embora não seja possível, a partir das gravações, confirmar que tipo de arma química foi usada, Hays disse que os sintomas visíveis, como secreção nasal, dificuldade para respirar e suor são próprios de uma exposição a gás organofosfórico. "E agentes tóxicos são organofosfatos poderosos", disse.

Stefan Mogl, especialista em armas químicas do Departamento de Proteção Civil da Suíça, disse que, ao ver os vídeos, não tem dúvida. "A combinação dos sintomas indica que houve exposição ao gás sarin", afirmou. "Era possível ver a contração das pupilas de uma criança, por exemplo, e esse é o primeiro sintoma do envenenamento. Depois, a maneira como os músculos das pessoas se contraíam. Primeiro, em várias partes do corpo. Depois, o corpo inteiro."

Segundo Mogl, isso é muito difícil de ser simulado. Além disso, muitas das vítimas são crianças, o que torna bem menos provável uma encenação. "O número de pessoas atingidas também me parece difícil de ser explicado de outra maneira que não pelo uso de armas químicas."

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O regime, provavelmente, está por trás dos ataques. "Estive no hospital durante horas", disse o farmacêutico Abu Ahmad, que trabalha em um hospital da capital. "Mas quase não havia medicamentos. Aqueles que não morrem imediatamente são tomados pelo tremor descontrolado do corpo e muitos espumam pela boca. Os olhos ficam afundados. A pele do morto fica cinzenta", disse.

Testemunhas indicaram que as tropas do governo realizaram o ataque. Às 5 horas da manhã de quarta-feira, mesquitas alertaram que houve um ataque com gás venenoso e orientaram as pessoas a manterem portas e janelas fechadas.

"Fui chamado pelo hospital", disse Abu Ahmad, que trabalha como voluntário no pronto-socorro. "As ruas estavam cheias de fumaça porque os moradores fizeram fogueiras para neutralizar o gás", disse. Quando chegou ao hospital, 20 corpos estavam sendo levados para dar lugar a outros pacientes.

Segundo testemunhas, os mísseis começaram a ser lançados no nordeste de Damasco às 3h45 da manhã. Eles eram disparados aos pares e, em Zamalka, mais de 20 atingiram a cidade. Muadhamija e Darayya, áreas das quais o Exército foi expulso, foram as cidades mais afetadas. Os ataques teriam sido lançados a partir de bases da 4.ª Divisão do Exército.

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Parece curioso que, como outras vezes, os ataques tenham sido lançados dois dias depois de especialistas em armas químicas da ONU chegarem à Síria. Para Riad Kahwaji, que chefia o Instituto de Análises Militares do Oriente Médio e do Golfo, em Beirute, isso não é surpresa. "O governo Sírio enviou um sinal claro para a oposição: ‘vocês estão sozinhos e podemos fazer com vocês o que quisermos.’"

O uso de armas químicas na presença da equipe da ONU também é uma forma de ridicularizar a comunidade internacional. Kahwaji, porém, não acredita numa resposta do Ocidente. "O regime sírio continuará imune enquanto estiver protegido pelos russos", afirmou.

Além disso, o mandato dos inspetores da ONU é limitado. "Eles só têm permissão para visitar locais escolhidos pelo regime", disse Kahwaji. "E apenas determinando se armas químicas foram usadas, mas não quem as utilizou." / DER SPIEGEL

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