Síria diz que não há provas contra ela

Ministro da Informação nega que o país esteja por trás do atentado que matou deputado anti-sírio em Beirute

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Por Gustavo Chacra
Atualização:

Não há provas contra a Síria. Esse foi o argumento usado ontem pelo regime de Damasco para defender-se das acusações de que estaria por trás do atentado que matou, na véspera, o deputado cristão libanês Antoine Ghanem em Beirute. Os membros da coalizão governista libanesa 14 de Março rebatem dizendo que basta ver que a vítima do carro-bomba, como as de atentados anteriores, era crítica da interferência síria na política libanesa. No meio da briga, está a incerteza sobre o que pode ocorrer na terça-feira, quando deputados libaneses se reunirão para começar a decidir quem será o próximo presidente do país, por meio de eleições parlamentares. O mandato do atual chefe de Estado, o pró-sírio Émile Lahoud, termina no fim de novembro. As negociações entre o governo e a oposição para um acordo foram suspensas. O primeiro-ministro libanês, o sunita pró-ocidental Fuad Siniora, disse que seus aliados comparecerão à votação. Com tom conciliador, o presidente do Parlamento e um dos líderes da oposição, o xiita Nabi Berri, garantiu que o processo será levado adiante. Mas, nas ruas de Beirute, a sensação era outra. Escolas e bancos fecharam as portas ontem e não devem reabrir hoje. Membros do partido cristão de Ghanem, a Falange, convocaram uma greve de dois dias. E, como é costume desde o assassinato do ex-premiê Rafic Hariri, em fevereiro de 2005, dezenas de milhares de pessoas devem participar hoje do funeral do parlamentar assassinado. Em declarações publicadas no diário An-Nahar, um dos mais respeitados de Beirute, o líder governista Saad Hariri - filho do ex-premiê - afirmou que nunca viu "nada mais covarde do que o regime do presidente sírio, Bashar Assad". Segundo o jornal Al-Akhbar, Hariri disse que, quando Israel bombardeia a Síria, "os sírios respondem atacando o Líbano". Desta vez, o governo sírio contra-atacou com dureza. Em entrevista ao Estado em seu escritório em Damasco, o ministro da Informação, Mohsen Bilal, pediu que figuras como Hariri e o líder druso Walid Jumblatt apresentem provas. "Como eles podem acusar-nos logo após o ataque, sem nenhuma evidência contra a Síria? É tudo mentira. Esses senhores são aliados de forças estrangeiras", disse, referindo-se aos EUA. Questionado sobre o motivo de políticos como Hariri, Amin Gemayel e Ghassan Tueni - que perderam parentes nos recentes ataques - acusarem a Síria, Bilal afirmou que "eles fazem o jogo dos estrangeiros" e disse que o embaixador dos EUA em Beirute, Jeffrey Feltman, interfere na política interna libanesa. Já o Irã e a Síria, segundo ele, apenas têm simpatia por alguns grupos, como o Hezbollah, mas de forma nenhuma intervêm no Líbano. "A Síria está preocupada (apenas) com a segurança da Síria", afirmou o ministro, em um escritório com fotos de Luiz Inácio Lula da Silva, Fidel Castro e Hugo Chávez. "Mas todos sabem que, quando a Síria estava presente no Líbano, o Líbano era um país mais seguro", disse - acrescentando, no entanto, que os sírios não querem voltar a Beirute. O Syrian Times, diário em língua inglesa de Damasco, publicou reportagem na capa sobre o atentado usando como base material de agências internacionais. No texto, porém, é omitido que Ghanem era um crítico da Síria. Além disso, não há nenhuma declaração de políticos governistas do Líbano. Mas o ministro da Informação sírio negou haver censura e acrescentou que todos os jornais libaneses podem ser encontrados nas bancas de Damasco. Bilal também se recusou a apontar um responsável pelo atentado no Líbano: "Não há nenhuma prova contra ninguém ainda." Ele disse também que a Síria tem cooperado com o tribunal da ONU que investiga o assassinato de Rafic Hariri. Sobre a misteriosa incursão aérea de Israel no dia 6, o ministro sírio disse que foi uma "aventura de um fraco governo israelense que quer mostrar os seus músculos". "Não tivemos nenhuma perda material ou humana no ataque e nossas baterias antiaéreas repeliram os aviões israelenses", afirmou. "Essa ação serviu apenas para mostrar que são eles que não querem a paz. Como um dia após o presidente de Israel, Shimon Peres, dizer que quer a paz, Israel leva adiante uma ação dessas?" O ministro ainda ironizou as especulações de que os caças israelenses teriam bombardeado material nuclear na Síria. "Eles têm mais de 250 mísseis nucleares. Já a Síria quer um Oriente Médio livre de armas de destruição em massa."

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