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Síria ignora Liga Árabe, que imporá sanções

Fim do ultimato coincide com vazamento de relatório que denuncia tortura de crianças

Por JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

O ultimato dado pela Liga Árabe para que o regime de Bashar Assad aceite uma missão observadora na Síria acabou na tarde de ontem. Uma reunião deve decidir hoje quais sanções econômicas contra Damasco serão adotadas. A pressão contra o ditador deve aumentar com a divulgação, na segunda-feira, do resultado da investigação liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro sobre a repressão à oposição síria. O governo sírio enviou ontem uma carta ao secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, pedindo mais detalhes sobre a missão e seu status legal. Segundo um diplomata, a entidade esperaria até o fim do dia por um acordo com Assad. Se a situação permanecer inalterada, a Liga Árabe deve optar, hoje mesmo, pela suspensão dos voos para a Síria e pelo congelamento de ativos e de transações financeiras de membros do regime. Damasco não tem dado sinais de que cederá. Ontem, segundo entidades de direitos humanos ligadas à oposição, 11 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança. O Exército, cuja cúpula ainda é leal a Assad, prometeu "prosseguir com a defesa da segurança nacional e reagir a todas as ameaças". "Cortaremos qualquer mão maligna que queira derrubar o sangue sírio", diz o comunicado publicado pela agência Sana. A investigação de Paulo Sérgio Pinheiro, segundo pessoas que tiveram acesso a um rascunho do documento, deve revelar detalhes da cruel repressão de Assad aos manifestantes. Segundo ela, crianças foram executadas e há relatos de torturas em hospitais. Funcionários da ONU disseram estar "totalmente escandalizados" com o relatório, principalmente no que se refere à tortura. "Poucas vezes se viu um sistema de repressão tão completo, com a tortura sendo utilizada politicamente e nos mais diferentes setores", explicou um especialista que leu um rascunho do texto. "Pelo que parece, uma máquina de tortura foi criada para silenciar todo um país", acrescentou o especialista. "Ela não ocorre apenas em prisões, mas em hospitais, colégios, centros de atendimento e ministérios." Informações. Ontem, o Comitê da ONU contra a Tortura declarou-se "profundamente preocupado" com a violência contra crianças na Síria. Segundo a entidade, menores têm sido sistematicamente presos, torturados, mutilados e executados.Uma investigação do governo francês chegou à mesma conclusão. A inteligência de Paris, com base em relatos de pessoas que abandonaram o governo e passaram a apoiar a oposição, descobriu que crianças têm sido sequestradas, torturadas e assassinadas. Os corpos são abandonados nas portas de suas casas.Pinheiro, que está impedido de comentar o documento até segunda-feira, foi convidado a liderar o processo de investigação independente pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU. No dia 2, o órgão volta a se reunir para debater o texto.Ex-ministro de Direitos Humanos no governo de Fernando Henrique, Pinheiro foi escolhido pela ONU pois, sendo brasileiro, poderia ter ainda um certo acesso ao governo sírio.Mas o diplomata não pôde entrar com seu grupo de investigadores na Síria. Limitou-se a entrevistar refugiados, teve acesso à inteligência de diversos governos e a informações de ONGs. / COM AP

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