Situação argentina preocupa Brasil

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Por Agencia Estado
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A renúncia de Adolfo Rodríguez Saá à presidência da Argentina, na madrugada desta segunda-feira, aprofundou a preocupação do governo brasileiro em relação aos rumos que serão tomados pelo país vizinho. O maior temor concentra-se na possibilidade de desmonte da ordem democrática argentina e no conseqüente agravamento da crise econômica. Embora considere o baixo poder de contaminação desse cenário para o Brasil, o governo acredita que o Mercosul seria diretamente afetado pela instabilidade argentina. Nesta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, manteve contato permanente com a Embaixada do Brasil em Buenos Aires, em busca de informações sobre as reações internas à renúncia de Saá e a convocação da Assembléia Legislativa, nesta terça-feira, para a escolha do novo presidente. "Espero que a Argentina encontre o ponto de equilíbrio necessário e que continue a caminhar pelo leito institucional", declarou Lafer, por intermédio de seu porta-voz, Pedro Luís Rodrigues. Fontes do governo, entretanto, afirmaram ao Estado que a preocupação do Brasil está na dificuldade de a Argentina compor um novo governo com poder suficiente para garantir a ordem interna, adotar as medidas econômicas necessárias e evitar uma nova reação dentro das suas próprias bases políticas. A perspectiva de crise institucional do país vizinho, desgastado pelo período de fragilidade política do governo Fernando De la Rúa, é considerada nos cenários traçados entre as autoridades brasileiras. A renúncia de Rodríguez Sáa, entretanto, trouxe novas incertezas sobre os destinos do bloco. Apesar de manter o seu processo de integração congelado pela crise argentina, o Mercosul deverá enfrentar neste ano uma pesada agenda de negociações comerciais com o resto do mundo. No final das contas, o que se espera dessas conversas é a abertura de mercados para seus produtos e, portanto, a criação de uma via de crescimento econômico. O ponto-chave está no fato de que, até o final de junho, caberá à Argentina a presidência temporária do bloco e, portanto, a liderança desses processos de negociação. Nesta segunda-feira, diante desse dilema - e também da inexistência de interlocutores oficiais do governo argentino -, Lafer buscou contato com o chanceler uruguaio, Didier Upperti. Conforme informou o porta-voz do Itamaraty, ambos decidiram reforçar o compromisso assumido no último dia 21, em Montevidéu, de promover um novo encontro entre altas autoridades dos quatro países logo que for nomeado o sucessor de Rodríguez Saá - ou que ele seja reintegrado ao posto. Em princípio, deverão reunir-se, em fevereiro ou até mesmo neste mês, os presidentes dos quatro países ou somente os ministros envolvidos com temas econômicos e comerciais. Seria, portanto, uma reedição da última Reunião de Cúpula do Mercosul. O evento havia naufragado por conta do acirramento da crise argentina, que levou à renúncia de Fernando De la Rúa e à escolha temporária de Rodríguez Saá. A nova reunião teria o objetivo de recompor a imagem do bloco, ao reiterar a decisão dos sócios de levar adiante sua posição comum para as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e as discussões em andamento com a União Européia. Mas também deverá servir como cenário para uma nova manifestação de apoio político dos sócios do Mercosul ao governo argentino. Leia o especial

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