
21 de agosto de 2011 | 00h00
Os últimos dias sugerem - pela primeira vez desde o início dos combates, há seis meses - que Muamar Kadafi está perdendo definitivamente o controle da Líbia.
O mapa da guerra civil está agora marcado por derrotas do ditador. O avanço dos rebeldes na cidade costeira de Zawiya, 50 km a oeste de Trípoli, cortou o abastecimento das forças de Kadafi. Os insurgentes espremeram ainda mais o Exército com a tomada de Gharyan, ao sul. E, ao leste, milicianos controlaram Zlitan, estratégica cidade costeira.
"Está claro que a situação caminha contra Kadafi", declarou aos jornalistas no sábado, em Benghazi, capital dos rebeldes, o subsecretário de Estado dos EUA para assuntos do Oriente Médio, Jeffrey Feltman. "Os rebeldes continuam a obter importantes vitórias, enquanto o regime se torna mais fraco."
É pouco provável, porém, que os rebeldes, mal armados e sujeitos a erros de estratégia, possam ganhar a capital sem um cerco prolongado e sangrento. Mesmo com o fato de terem sido ajudados pela deserção de representantes do alto escalão do regime e também pelos bombardeios da Otan, que castigaram o Exército de Kadafi - que desafiadoramente concentra seu fogo em Trípoli.
O otimismo dos EUA é compartilhado pelo líder rebelde Abdel Jalil Mustafa, que ontem afirmou aos jornalistas: "O fim está próximo. Espero um fim catastrófico para ele e seus assessores mais próximos".
Os rebeldes afirmaram que conquistaram o controle da cidade petrolífera de Brega, cerca de 415 quilômetros a sudeste de Trípoli. Nos últimos meses, a cidade se alternou entre o controle de Kadafi e dos rebeldes - e tem sido palco de intensos combates.
"A situação em Trípoli é como a de um homem com um câncer terminal e apenas esperando", declarou o coronel Ahmed Omar Bani, porta-voz do exército rebelde. "As tropas de Kadafi não estão no controle em nenhuma cidade. Os moradores quebraram a barreira do medo e começaram a nos ajudar, com coquetéis Molotov, bombas caseiras e armas enviadas a Trípoli", completou.
Nenhuma das afirmações podiam ontem ser confirmadas de forma independente, enquanto ataques da Otan castigavam o interior e os arredores da capital. O governo de Kadafi liberou na semana passada um áudio em que o líder dizia aos compatriotas que "o sangue dos mártires encheria o campo de batalha". Ele acrescentou: "O fim do colonizador está próximo e o fim dos ratos (rebeldes) está próximo. Eles tiveram de fugir de uma casa a outra antes que as massas os esmagassem".
Mas os eventos do terreno se viraram contra ele, enquanto os rebeldes desfraldavam bandeiras e exibiam tanques capturados do Exército. O líder líbio estava cercado por insurgentes no sul, leste e oeste, enquanto navios da Otan bloqueavam o Mar Mediterrâneo.
Relatos divergentes surgiram nos últimos dias sobre negociações secretas entre insurgentes e o regime de Kadafi. Sentindo que o momento agora parecia favorável a eles, os rebeldes teriam se retirado dessas conversas.
Ao mesmo tempo, o círculo de colaboradores mais próximos de Kadafi também se reduzia. Abdel Salam Jalloud, um de seus mais leais confidentes, deixou o país e supostamente refugiou-se na Tunísia. À partida dele, seguiu-se a do ministro do Petróleo Omran Abukraa. O ex-ministro do Interior Nassr Mabrouk Abdullah aterrissou com sua família no começo deste mês no Cairo.
Os combates têm se intensificado com a aproximação dos rebeldes da capital. Batalhas nas ruas, fogo de artilharia e disparos de fuzis de franco- atiradores têm ecoado nos últimos dias em Zawiya e na refinaria de petróleo que se localiza em seus arredores.
Em Zlitan, onde 32 rebeldes foram mortos e 150 ficaram feridos, a TV do Catar Al-Jazira reportou: "Os combatentes rebeldes sofreram pesadas perdas... Eles estão sob fogo de barragem e ao alcance dos foguetes, mas ainda assim avançam. Os soldados de Kadafi recuam, deixando vasta munição e um monte de equipamento para trás".
É CORRESPONDENTE
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.