01 de setembro de 2013 | 02h03
A embaixada ficava a poucas quadras do Palácio de la Moneda. Os funcionários ouviram os estrondos do bombardeio e viram os caças sobre Santiago. A diplomacia brasileira, porém, estava longe de ser mera espectadora da conjura. "Houve muita coisa nebulosa naquela embaixada, mas o principal passou pelo SNI (Serviço Nacional de Informações), que operava um canal paralelo dentro da missão, e pelo próprio embaixador (Antônio Cândido da Câmara Canto)", diz Viegas.
Câmara Canto era colega de hipismo e tinha laços com vários dos oficiais que lideraram o golpe. Após o golpe, ele recebeu dos chilenos o carinhoso apelido de "o quinto membro da junta militar". O embaixador americano em Santiago, Nathaniel Davis, afirmou, anos depois, que o brasileiro o convidou, em março de 1973, para organizar um golpe contra Allende - àquela altura, a CIA já conduzia planos avançados para isso.
Segundo duas fontes que estavam no Itamaraty à época, um dos últimos encontros dos chefes das quatro forças chilenas (as três armas e os carabineros) ocorreu dentro do palacete onde funcionava a embaixada brasileira. A ocasião foi a festa do 7 de Setembro - quatro dias antes do golpe. Tradicionalmente, os oficiais chilenos prestigiavam a celebração da independência na missão brasileira. Câmara Canto teria reservado uma sala para os militares.
Na tarde do dia 13 de setembro, o embaixador surpreendeu os generais chilenos ao notificá-los de que o presidente Emílio Garrastazu Médici, em apoio ao golpe, decidira reconhecer imediatamente o novo governo. Horas depois, o encarregado de negócios chileno em Brasília, Rolando Stein, era chamado ao Itamaraty para receber a mesma informação. "Foi uma demonstração da profunda amizade do Brasil", escreveu Stein. / R.S.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.