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Sob forte pressão dos EUA, Opaq deve votar saída de Bustani

Por Agencia Estado
Atualização:

Os 145 países da Organização para Proibição de Armas Químicas (Opaq) devem votar, entre amanhã e terça-feira, a saída do brasileiro José Maurício Bustani da direção da entidade à pedido do governo dos Estados Unidos. Apesar da resistência do Brasil e do próprio Bustani, os norte-americanos estão preparados para usar todos os instrumentos, legais ou ilegais, para conseguir afastar o diretor de seu cargo. Em uma reunião secreta realizada na última sexta-feira, em Haia, representantes da Casa Branca convocaram os mais de 25 norte-americanos que trabalham na Opaq para explicar o que estava ocorrendo e orientar o comportamento desses funcionários. Um dos participantes da reunião contou ao Estado os planos da Casa Branca, mas preferiu não se identificar. Segundo ele, as autoridades norte-americanas ameaçaram aqueles que denunciem as intenções de Washington, que claramente desrespeitam as regras multilaterais do direito internacional. Votos - Durante o encontro, os Estados Unidos reconheceram que poderão pagar as contribuições dos demais países à Opaq se esses países votarem pela saída de Bustani. Segundo as regras da entidade, os países que não pagaram suas contribuições perdem o direito de voto. A Casa Branca teria proposto a países com seus pagamentos atrasados - principalmente da Ásia, América Central e África - de cobrir suas dívidas em troca dos votos. Substituto - Os norte-americanos estão tão seguros da saída de Bustani que já começaram a procurar um substituto para o diretor. A Casa Branca chegou a oferecer ao Brasil que indicasse um novo diplomata para o cargo, mas o Itamaraty se recusou. Na reunião entre os norte-americanos, realizada na sexta-feira, autoridades da Casa Branca reconheceram que, como ainda faltam três anos para o fim do mandato de Bustani, o novo diretor deveria vir da América Latina. Mas Washington parece não estar preocupado com isso. Durante o encontro, diplomatas norte-americanos classificaram os governos latino-americanos de "incompetentes" e que nunca chegariam a um nome comum para ser indicado para a direção da Opaq. Uma das opções da Casa Branca seria indicar um dos vice-diretores da Opaq, o australiano John Gee, para o cargo. Mas em Haia, os rumores são de que Gee seria um aliado dos Estados Unidos, o que não agrada aos demais países. Na Malásia, por exemplo, Gee é considerado "persona non-grata" por seus trabalhos no país supostamente em nome da Opaq. Futuro - Um dos americanos presentes à reunião teria questionado os diplomatas de Washington sobre o que seria feito se o próximo diretor geral da Opaq decidisse, assim como Bustani, adotar uma linha independente dos interesses norte-americanos. Resposta não poderia ser mais contundente: "vamos f... a Opaq". Em seu discurso em Haia, Bustani ressaltou que os Estados Unidos pensavam que poderiam tirá-lo do cargo sem que o caso se tornasse público e sem necessitar explicar o que ocorria para os demais países. Segundo ele, os norte-americanos chegaram a oferecer uma "saída de herói" para ele, caso aceitasse se retirar da Opaq sem resistência. "Há muito em jogo, para a Opaq e para comunidade internacional", alerta Bustani. "As decisões dos próximos dias ficarão para a história das relações internacionais", completou.

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