Sob forte segurança, líder segregacionista é enterrado na África do Sul

Correligionários de Eugene Terreblanche, morto em sua fazenda, se despediram de líder com saudação nazista.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Sob um forte esquema de segurança, foi realizado, nesta sexta-feira na África do Sul o funeral de Eugene Terreblanche, o líder do movimento segregacionista branco do país, morto a pauladas em sua fazenda no sábado. Vários policiais e soldados foram mobilizados para monitorar a cerimônia e evitar possíveis choques entre simpatizantes de Terreblanche e a população negra local. Cerca de três mil pessoas compareceram ao funeral, na cidade rural no noroeste da África do Sul. Ao final da cerimônia, realizada em uma igreja protestante, vários dos presentes fizeram a saudação nazista enquanto o caixão era levado, de carro, para a fazenda de Terreblanche, onde foi enterrado. Terreblanche foi o líder do Movimento de Resistência Africâner, o AWB (na sigla em africâner, idaleto parecido com o holandês). Milhares de simpatizantes do AWB se reuniram na cidade - alguns depois de viajar longas distâncias - entre eles homens armados vestidos com roupas de combate e crianças pequenas, disse a correspondente da BBC Karen Allen. Do lado de fora da igreja havia bandeiras dos tempos do apartheid na África do Sul e faixas culpando os líderes do Congresso Nacional Africano (CNA, o partido do governo) pela morte de Terreblanche. Dois funcionários da fazenda de Terreblanche foram acusados pelo assassinato, mas as autoridades ressaltam que o crime foi motivado por questões de dinheiro e não de raça. A morte de Terreblanche, entretanto, trouxe de volta o fantasma da tensão racial no país. Simpatizantes do AWB afirmaram que atos de provocação do jovem líder político Julius Malema, do CNA (Congresso Nacional Africano, partido que está no poder desde o fim do regime segregacionista, em 1994) levaram ao assassinato de Terreblanche. Na semana passada, a Justiça sul-africana proibiu Malema de cantar uma antiga canção dos tempos da luta contra o apartheid, Kill the Boer, Kill the Farmer ('Mate os fazendeiros, mate os Bôeres'), por considerar que ela incitava o ódio racial. 'Boer' é fazendeiro no idioma africâner, usado por descendentes de holandeses na África do Sul, mas a palavra muitas vezes é usada como sinônimo de branco entre a comunidade negra do país. Ao mesmo tempo em que era realizado o funeral, a federação dos sindicatos da África do Sul, Cosatu, fazia uma reunião do outro lado da cidade, para discutir recente episódios de violência em fazendas. Segundo a correspondente da BBC, para alguns, a convocação dessa reunião seria uma forma de manter vários trabalhadores negros de fazendas distantes do funeral, como forma de evitar confrontos. Mas outros interpretaram a convocação da reunião como um gesto de provocação, por causa do dia e local. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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