Sob pressão, EUA sinalizam mudança de posição no Oriente Médio

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Por Agencia Estado
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Com a diplomacia americana a reboque dos eventos no Oriente Médio, o governo dos Estados Unidos deu nesta quarta-feira novas demonstrações das contradições e da improvisação que tem marcado sua atuação no conflito entre israelenses e palestinos, para alarme de seus aliados na região e mesmo de políticos republicanos em Washington. Pela manhã, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, reafirmou o apoio dos EUA à ofensiva militar desencadeada pelo primeiro-ministro Ariel Sharon em represália a vários ataques suicidas contra Israel. Com os tanques israelenses entrando em Nablus, a maior cidade dos territórios ocupados da Cisjordânia, Fleischer disse que "a posição do presidente George W. Bush continua clara: o que ele vem dizendo há dias é que, na sequência das bombas suicidas e dos ataques ocorridos em Israel, ele compreende e respeita o direito de Israel de se defender". À tarde, no entanto, fontes do Departamento de Estado informaram que, em conversa telefônica com Sharon, o secretário de Estado, Collin Powell, pediu ao líder israelense para concluir a ofensiva militar o quanto antes. Pouco depois, altos funcionários, inclusive o próprio Fleischer, sinalizaram duas mudanças na posição americana. A possibilidade de Powell viajar à região, que o próprio secretário de Estado afastara na véspera passou a ser tratada como algo a não se descartado. De acordo com os funcionários, Powell poderia tentar pessoalmente mediar o fim das hostilidades mesmo sem haver um acordo em vista, tal como sugeriu hoje o senador republicano Arlen Specter, republicano da Pensilvânia, durante uma entrevista a um programa matinal. O próprio secretário de Estado confirmou sua disposição de encontrar-se com líderes israelenses, árabes e palestinos durante visita de três dias que fará à Alemanha e à Espanha, na próxima semana, para consultas com líderes europeus e com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Igor Ivanov. Mas ressalvou que isso dependerá da situação naquele momento. "Não descarto nenhum encontro se este servir a um propósito", disse ele. Igualmente importante, as mesmas fontes disseram que a administração estava disposta a considerar os aspectos políticos de uma negociação de paz, além da questão de segurança de Israel que limitara o mandato do enviado especial dos EUA, Anthony Zinni, à busca de um cessar-fogo. "Há outras partes da diplomacia, além do cessar fogo", disse um alto funcionário. O porta-voz da Casa Branca confirmou a nova disposição da administração de discutir um acordo de paz mais abrangente, ou seja, que vá além de um cessar-fogo, antes de uma retirada das tropas e tanques israelenses da Cisjordânia e de a Autoridade Palestina iniciar a repressão aos grupos militantes responsáveis pelos ataques suicidas. "Os arranjos de segurança ajudam a reforçar o processo político, como resultado do cessar fogo, mas o diálogo político é parte essencial do diálogo", afirmou o porta-voz. Os palestinos insistem no fim da ocupação militar israelense da Cisjordania e de Gaza, agora endossada por nova resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e na retomada do processo de paz, como condição para um cessar-fogo. Para o governo israelense, nada acontecerá enquanto não cessarem os ataques palestinos e a segurança do país estiver garantida. Sob intensa pressão dos aliados europeus e árabes para que os EUA endureçam com Sharon, a administração Bush tem um forte motivo adicional para abandonar a hesitação que marcou sua atuação, até agora. Fontes oficiais israelenses indicaram hoje a possibilidade de Israel expandir seus ataques a Gaza, que é mais densamente habitada do que a Cisjordânia e abriga várias facções palestinas fortemente armadas. Tal operação, que estava na agenda de um encontro de Sharon com os chefes dos serviços de segurança da Israel, marcado para hoje à tarde, representaria uma nova escalada no conflito. Com as embaixadas dos EUA em várias capitais da região já cercadas por manifestantes hostis, o ministro das relações exteriores da Jordânia, Manwan Muasher, renovou o apelo dos aliados árabes por uma ação decisiva de Washington junto a Sharon, hoje à tarde. "Os EUA são o único país que pode parar Sharon e, se algo acontecer a (o presidente da Autoridade Palestina, Yasser) Arafat, o mundo árabe se levantará", previu Muasher.

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