27 de junho de 2012 | 03h03
Policiais amotinados há seis dias na Bolívia retomaram ontem as negociações com três ministros do presidente Evo Morales. Eles pedem um reajuste salarial, mas o governo vê um propósito "golpista" no movimento grevista, que na segunda-feira reprimiu uma marcha de partidários de Evo no centro de La Paz.
Segundo o ministro do Interior, Carlos Romero, o diálogo foi retomado para impedir um aumento da violência no país. Até a noite de ontem, no entanto, os policiais continuavam amotinados e uma comissão grevista negociava com os ministros. Os grevistas controlavam entre 25 e 30 quartéis e comandos regionais nos 9 Departamentos (Estados) da Bolívia.
Os policiais revoltosos ocupam há seis dias a Praça de Armas, no centro de La Paz, sede do Executivo e Legislativo boliviano. À paisana, mas armados e com os rostos escondidos, eles pedem um salário mínimo equivalente a US$ 287, aposentadoria integral, anistia aos revoltosos e criação de uma ouvidoria. Amotinados, gritavam palavras de ordem contra Evo.
"Avançamos em vários pontos. Esperamos que, após um dia de reflexão, esse conflito seja resolvido e a tranquilidade retorne", disse o vice-ministro do Interior Jorge Pérez.
A crise na segurança pública na Bolívia agravou-se no domingo, após oficiais de baixa patente rejeitarem um acordo de reajuste fechado por líderes do movimento. Na segunda-feira, esses policiais reprimiram uma marcha de fazendeiros favoráveis a Evo que tentava chegar à praça ocupada pelos revoltosos com bombas de gás lacrimogêneo.
"Infelizmente, o presidente não resolveu nada", disse um grevista à agência de notícias Reuters. "Cogitamos de tomar medidas extremas."
Enquanto o impasse prosseguia, a greve provocou transtornos no país. Houve problemas no trânsito das principais cidades e bancos recorreram a seguranças privados para funcionar. O governo vê uma motivação política por trás da paralisação.
"A intransigência dos policiais que usaram violência contra cidadãos mostra que buscam algo mais do que um aumento salarial", disse a ministra de Comunicação Amanda Dávila. "Eles buscam a desestabilização."
A oposição nega ter instigado a greve. "Não há golpismo", declarou o ex-prefeito de La Paz Juan del Granado. "O que existe é uma paranoia do governo. Uma cortina de fumaça que procura encobrir seu desgaste."
Marcha. Manifestantes indígenas que marchavam rumo a La Paz para protestar contra a construção de uma estrada em suas terras pararam ontem às portas da capital para não ter seu movimento ligado à greve. Eles convidaram o governo a negociar em Urujara, a 12 km da capital. "Esperamos que haja um diálogo", disse o presidente da Confederação dos Povos Indígenas do leste da Bolívia, Adolfo Chávez.
No mês passado, Evo teve de enfrentar uma greve de trabalhadores do setor de saúde. / AFP e REUTERS
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