Sob tensão, Haiti encerra campanha e prepara eleição

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Por Agencia Estado
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Haiti, um dos países mais pobres do planeta, vive com esperança e tensão as últimas horas de campanha para as eleições presidenciais e legislativas de terça-feira. Os dois candidatos mais cotados do Haiti, o ex-presidente René García Préval, de 63 anos, e o empresário Charles Henri Baker, de 50 anos, cantam vitória nas eleições presidenciais e parlamentares e esperam ganhar já no primeiro turno. Quando o domingo terminar, também terá fim a campanha para os pleitos, nos quais os haitianos definirão seu futuro e a comunidade internacional porá à prova sua credibilidade. Os Estados Unidos, a ONU, a Organização dos Estados Americanos (OEA), a União Européia (UE) e várias instituições internacionais de caráter humanitário se envolveram na realização de tais eleições. O investimento internacional no Haiti durante os dois últimos anos foi milionário e enorme em recursos humanos, ao passo que a ingerência nos assuntos internos do país foi aberta e decisiva. Por conta disso, os cerca de 8 milhões de haitianos sofreram os rigores de um Governo provisório concentrado em cumprir diretrizes internacionais para a realização de uma eleição que foi adiada quatro vezes e cuidar, pelo menos aparentemente, do caráter democrático e soberano do processo. A fome, o abandono absoluto das crianças, a aids e a violência extrema, política e doméstica, são males que há anos castigam o Haiti de maneira endêmica. Mas, além disso, desde a revolta popular que em fevereiro de 2004 tirou da Presidência Jean Bertrand Aristide e propiciou a instalação de um Governo provisório, sob o amparo dos EUA, e a abertura do processo eleitoral, os haitianos viram dobrar os preços da gasolina, do arroz e do feijão. A campanha eleitoral foi nula no que se refere a debates sobre as propostas, já que o fundamental e urgente parece ser a instalação legítima de uma administração que governe. As duas únicas opções vislumbradas são um presidente, mais que um Governo, que tenha a confiança da oligarquia ou um que seja do agrado da maioria dos pobres. Apoio dos ricos e dos pobres O único candidato capaz de receber o apoio das duas classes parece ser o ex-primeiro-ministro e ex-presidente René Preval, antigo aliado de Aristide, mas, atualmente, muito distanciado do deposto governante, que está exilado na África do Sul. Agentes dos diferentes órgãos internacionais implicados no processo coincidiram em assegurar à EFE que a oligarquia haitiana e os EUA aceitariam Preval como presidente e administrador dos interesses do país. Preval, à frente do partido A Esperança, de recente e oportunista criação, aparece nas pesquisas como o candidato favorito, com o apoio dos setores sociais mais pobres e da família Lavalas, da formação Avalancha, na qual o candidato militou ao lado de seu fundador, Aristide. "Os ricos" parecem ter aceito um Governo de um ex-colaborador de Aristide, tirado do poder e expulso do país com o apoio dos estudantes, dos ex-membros das dissolvidas Forças Armadas e dos EUA. Por outro lado, os seguidores de Preval advertiram em tom ameaçador que não aceitarão outro resultado que o da vitória. Ou seja, só a vitória de Preval parece garantir a paz social a curto prazo. E o candidato parece tão convencido de que vai ganhar que suspendeu todos os atos de encerramento de sua campanha. Pouco animador se apresenta um cenário em Preval não consiga a maioria absoluta e tenha que conquistar a Presidência num segundo turno, previsto para 19 de março. A relativa calma destes dias anteriores às eleições não é mais que produto de uma tensa espera dos setores mais radicais da população, entre eles os grupos armados, por uma vitória de Preval. Um segundo turno poderia liberar essa tensão contida, e, além disso, custaria novamente muitos esforços operacionais e econômicos ao país e aos organismos da comunidade internacional. O candidato que as pesquisas situam atrás de Preval é o empresário Charles Baker, conhecido como Charlito, o único concorrente branco num país onde 90% da população é de raça negra.

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