Sobrevivente do Holocausto de 89 anos agora precisa de proteção policial na Itália 

Senadora vitalícia pediu no mês passado a criação de uma comissão parlamentar para investigar manifestações de ódio, racismo e antissemitismo depois de ter sido vítima de ataques diários na mídia social

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Por Redação
Atualização:

ROMA - A senadora italiana e sobrevivente do Holocausto Liliana Segre, de 89 anos, foi posta sob proteção da polícia da Itália após receber ameaças de fanáticos de extrema direita. Seu caso não é isolado. A policia explicou que as preocupações com o crescente extremismo no país têm aumentado cada vez mais.

A senadora vitalícia pediu no mês passado a criação de uma comissão parlamentar para investigar manifestações de ódio, racismo e antissemitismo depois de ter sido vítima de ataques diários na mídia social.

Senadora italiana Liliana Segre, de 89 anos, foi uma das 776 crianças e adolescentes italianos menores de 14 anos mandados para campos de concentração e extermínio nazistas Foto: Luca Bruno/AP

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Partidos de direita italianos não apoiaram sua proposta e a controvérsia resultante só fez aumentar o abuso, com um grupo neonazista expondo um cartaz para denunciar o antifascismo perto de onde ela fazia uma aparição pública.

Segre não quis comentar a proteção policial. Uma fonte da segurança disse que a polícia apenas a estava acompanhando em eventos públicos e não havia cobertura da polícia em tempo integral.

Paola Gargiulo, chefe de gabinete de Segre, disse que “é preciso salientar que Liliana recebeu um número imensamente maior de mensagens de apoio e solidariedade que de mensagens de ódio”.

Segre foi deportada da Itália para Auschwitz em 1944, quando tinha 13 anos – uma das 776 crianças e adolescentes italianos menores de 14 anos mandados para campos de concentração e extermínio nazistas. Nos últimos anos, ela dedica muito de seu tempo a visitar escolas para falar sobre os horrores do Holocausto. Em 2018, foi nomeada senadora emérita.

Embaixador de Israel manifesta desânimo

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O embaixador de Israel na Itália, Dror Eydar, manifestou seu desânimo com as notícias de que Segre estava precisando de proteção policial. “Uma sobrevivente do Holocausto de 89 anos precisar de guarda da polícia simboliza o perigo que as comunidades judaicas ainda enfrentam na Europa de hoje”, escreveu ele no Twitter.

Ministros italianos manifestaram solidariedade a Segre. “Perdoe-nos, Liliana. A política de ódio não deterá sua luta, nem a nossa”, disse no Twitter a ministra da Agricultura, Teresa Bellanova.

Não houve comentários imediatos dos líderes dos principais partidos de direita italianos, a Liga e os Irmãos da Itália, que se opuseram ao pedido de Segre para a formação de uma comissão parlamentar advertindo que isso poderia levar à censura.

Antissemitismo é mais acentuado na França e Reino Unido

O Centro Judaico de Documentação Contemporânea (CDEC) disse que o antissemitismo parece estar aumentando na Itália, mas ainda é muito menos acentuado que na França e no Reino Unido

Stefano Gatti, pesquisador do CDEC, informou que até o início do mês foram reportados na Itália 190 casos de antissemitismo, para 197 em 2018 e 130 em 2017. 

A maioria foi de ataques na mídia social e insultos verbais, com apenas duas ações violentas menores registradas neste ano.

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“O antissemitismo no país está se tornando mais agressivo, mas o número de antissemitas se mantém estável”, disse Gatti. Ele acrescentou que, segundo pesquisas, 11% dos italianos são hostis aos judeus ou têm preconceito contra eles. / REUTERS

TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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