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Sobreviventes falam da noite de terror em Bali

Por Agencia Estado
Atualização:

O táxi que transportava Kylee Denae juntamente com um amigo tinha acabado de parar diante do Sari Club quando uma enorme explosão incinerou os dois táxis em frente ao deles. A comissária de bordo australiana de 35 anos saltou do carro e viu corpos saírem voando do bar ao ar livre. Havia sangue e vidros por toda parte e os olhos dela se fixaram em um rapaz que jazia na rua com as duas pernas arrancadas pela explosão. "Só pensei em sair dali", disse Denae, que contou que alguns de seus colegas de trabalho da Qantas estavam no clube no momento da explosão e continuam desaparecidos. "Havia gente sem membros. Havia pessoas em chamas correndo nuas pela rua." Foi o começou de uma noite infernal para milhares de pessoas, turistas em visita a um paraíso tropical que, em questão de segundos, transformou-se em um inferno mortal. Os sobreviventes lutaram para entender o que acontecera e passaram o resto da noite e o dia seguinte em estado de choque. A explosão no domingo acendeu uma imensa labareda - aparentemente provocada pela explosão de cilindros de gás, que fez com que o telhado do Sari Club ruísse, prendendo dentro dele centenas de pessoas. Segundos após a explosão principal, um explosão menor, que a polícia detectou como sendo de uma bomba caseira, estourou do lado de fora de um outro clube, a Paddy´s Discotheque, a 30 metros de distância, disseram testemunhas e a polícia. Ben e John Norton, de Kent, Inglaterra, tinham acabado de sair da Paddy quando ouviram o estrondo menor. Voltaram-se para ver um clarão alaranjado brilhante e ouvir a explosão ressoando do carro bomba que destruiu o Sari. Eles lembram de ter ouvido o barulho de estilhaçar de vidros nos quarteirões em torno deles e o coro de gritos em uníssono. Fragmentos voavam em todas as direções e depois multidões de feridos começaram a passar diante deles - alguns caminhando, outros sendo transportados na traseira de picapes ou de motocicletas. "Foi surreal", disse Ben Norton. "Você não acredita que está ali. É uma coisa que a gente vê na televisão, mas se pensa que nunca acontecerá conosco". Enquanto o fogo se espalhava, ambulâncias tentavam chegar rapidamente ao cenário. Mas eram obstruídas pelo maciço congestionamento de trânsito. Saqueadores começaram a furtar as lojas explodidas. E então, surgiram os boatos. Os militares estavam por trás disso, disse um motorista de táxi, e iriam atrás de mais turistas. Os terroristas estavam prestes a atacar a ilha, afirmou um vendedor de alimentos. Ataques a bomba tinham atingido a Malásia, Cingapura e até mesmo a Finlândia, disse o dono de uma loja. Ninguém reivindicou a autoria, mas os ataques intensificaram o medo de que a Al-Qaeda e seus aliados tenham decidido levar sua campanha para o mais populoso país muçulmano do mundo - embora Bali seja um enclave hindu. O cenário de caos, alimentado por rumores de um outro ataque, deixou os turistas em pânico. Assustados demais para retornarem a seus hotéis e histéricos demais para dormirem, muitos ficaram na rua ou buscaram refúgio nas praias de Kuta. Os turistas são, na sua maioria, da Austrália, Suécia, Alemanha e Grã-Bretanha. Centenas deles - muitos amontados em círculos com seus conterrâneos - passaram a noite à beira do mar trocando relatos e buscando entes queridos ou amigos desaparecidos. A praia ficou calma depois da carnificina no bairro de vida noturna. Eles se sentiram seguros. "Estávamos muito apavorados", disse Anna Lundberg, uma estudante de 24 anos de Estocolmo que viu a explosão e passou a noite na orla marítima. "Não sabíamos para onde ir nem o que fazer. Havia tantos boatos, tanta confusão". Quando amanheceu, grande parte dos jovens turistas voltaram a seus hotéis para buscar sua mochila e pranchas de surf e empreender uma corrida louca para o aeroporto. Embora a maioria planejasse passar mais algumas semanas na ilha, grande parte não pôde suportar a idéia de passar mais uma noite.

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