Sobrinhos de líder negacionista do Tajiquistão agridem ministro da Saúde após morte da mãe por covid

Nova onda, inicialmente desprezada pelas autoridades do país, atingiu famílias ricas e influentes

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Por Robyn Dixon
Atualização:

MOSCOU - Depois que a irmã do presidente do Tajiquistão morreu no hospital, supostamente vítima de covid-19, seus três filhos atacaram e espancaram o Ministro da Saúde do país e um médico sênior. Os relatos, difundidos na mídia tadjique, chamaram atenção para o súbito aumento de casos de covid-19 no país, localizado na Ásia Central, que por um tempo negou ter qualquer infecção confirmada. Ao contrário do que acontecia antes, o aumento parece estar atingindo os níveis mais altos da liderança do país.

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O incidente ocorreu poucas semanas após a morte da sogra do presidente Emomali Rahmon, também supostamente por covid-19. O governo tem enfrentado críticas por suas posturas negacionistas e inação durante a pandemia e por seu fracasso em conter uma nova onda desastrosa de infecções.

O último aumento de casos, inicialmente negado pelas autoridades, atingiu famílias ricas e influentes no Tajiquistão. A Rádio Ozodi, braço tadjique da Rádio Europa Livre, Rádio Liberdade, e outros meios de comunicação tadjiques online relataram que 10 membros da família do presidente contraíram covid-19.

A disseminação de casos entre a elite do país levanta questões sobre como o coronavírus está afetando os cidadãos comuns, em meio a críticas de que as autoridades há muito subestimam o verdadeiro número de casos e mortes.

O presidente do Tajiquistão, Emomali Rahmon; governo tem enfrentado críticas pela forma que conduziu a pandemia Foto: Alexei Nikolsky/Kremlin via Sputnik

Quando a covid-19 se espalhou pela região no início do ano passado, as autoridades de saúde negaram por meses que a doença estivesse presente dentro das fronteiras do país.

Nos últimos meses, o governo decidiu declarar que venceu a batalha contra o coronavírus, mesmo com os relatos de aumento nos casos de covid-19 se multiplicando nas redes sociais. Enquanto até meados de junho as autoridades negavam uma nova disseminação, alguns tadjiques começaram a postar seus testes com resultados positivos em mídias sociais, de acordo com a Eurasianet, enquanto as clínicas relataram dezenas de casos positivos diariamente.

A irmã de Rahmon, Kurbanbi Rahmonova, de 64 anos, morreu em um hospital governamental de elite em 20 de julho, 10 dias depois de ser hospitalizada. Não houve anúncio sobre a causa oficial da morte, mas a mídia local citou fontes médicas dizendo que ela havia morrido de covid-19.

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O ataque de seus filhos ao ministro da Saúde Jamoliddin Abdullozoda e ao diretor do hospital Kholmuhammad Rahimzodaby foi relatado na mídia local, citando entrevistas com autoridades dos ministérios do Interior e da Saúde. As duas principais vítimas sofreram ferimentos graves e vários outros médicos sofreram ferimentos leves por terem sido agredidos.

O vice-ministro da Saúde, Shodikhon Jamshed, rejeitou as perguntas sobre se Abdullozoda havia sido agredido, enquanto a presidência se recusou a responder a quaisquer perguntas, de acordo com a Rádio Europa Livre.

Até o vírus atingir as famílias presidenciais, as autoridades de saúde minimizaram a nova onda. O porta-voz do Ministério da Saúde, Emomali Mirzoyev, disse à Rádio Ozodi em 14 de junho que, embora as pessoas apresentassem sintomas, os resultados dos testes para covid-19 geralmente eram negativos.

“Muitas dessas pessoas, durante o calor do início de junho, beberam água excessivamente fria, e até gelada, e nadaram em águas geladas. As pessoas que vão ao médico costumam apresentar altas temperaturas, mas não têm coronavírus”, ele disse.

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A sogra de Rahmon, Uzbekbi Asadulloeva, morreu em 5 de julho, aos 88 anos. A causa da morte dela não foi divulgada, mas a mídia local citou fontes dizendo que ela havia morrido de covid-19.

Na semana passada, um importante imã pediu orações pelo genro do presidente, o poderoso empresário Shamsullo Sohibov, que também teria contraído covid-19. A mídia local disse que ele seria levado de avião para a Alemanha para tratamento.

O influente cunhado do presidente Hassan Asadullozoda, que dirige um banco e é dono de uma companhia aérea e muitas outras empresas, também estaria em estado grave após contrair o vírus, disse a mídia local. 

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Autoridades de saúde relataram mais de 1.051 casos e 26 mortes no mês passado, em meio ao ceticismo generalizado sobre a precisão das estatísticas oficiais.

Em uma entrevista coletiva na segunda-feira, o primeiro vice-ministro da Saúde, Gafur Mukhsinzoda, atribuiu a última onda de infecções à variante Delta que, segundo ele, provavelmente entrou no país vinda da Rússia.

Falando três dias após as autoridades de saúde negarem que qualquer caso relacionado à variante tivesse sido registrado, ele disse que o vírus estava se espalhando muito mais rápido do que em 2020, mas a situação não era crítica o suficiente para justificar um bloqueio.

Nenhuma explicação foi dada para a ausência do próprio ministro da Saúde na entrevista coletiva. Questionado sobre a precisão das estatísticas de covid-19, Mukhsinzoda disse que todos os países tiveram problemas na contagem de casos.

Os Estados Unidos entregaram na segunda-feira 1,5 milhão de doses da vacina Moderna ao Tajiquistão. As autoridades de saúde do país, que tem 9,3 milhões de habitantes, afirmam que 460 mil pessoas foram vacinadas.

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