Solana tem diálogo tenso com político israelense

O chefe de política externa da União Européia reuniu-se com Avigdor Lieberman, líder do partido ultraconservador Yisrael Beitenu e novo aliado do governo

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Por Agencia Estado
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O chefe de política externa da União Européia (UE), Javier Solana, iniciou nesta quarta-feira (25) um giro pelo Oriente Médio com um diálogo tenso com o mais recente aliado do governo do primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert. "Estou aqui para me reunir com um homem com o qual discordei durante minha vida inteira", disse Solana pouco antes do encontro com Avigdor Lieberman, líder do partido ultraconservador Yisrael Beitenu (Israel Nosso Lar). As posições radicais de Lieberman contra os árabes e os palestinos são vistas por analistas como um risco para o futuro dos esforços de paz na região. "Agora ele é um integrante do governo. Eu quero ver qual é a posição dele", disse Solana a jornalistas ao lado de Lieberman antes do início da reunião entre os dois, ocorrida na sede do Parlamento israelense. Lieberman pediu a Solana que desse a ele uma chance e manifestou a esperança de que aquela fosse a primeira reunião entre ambos, e não a última. "Eu tentarei explicar nossa abordagem, nosso plano", comentou. Segundo o político israelense, suas idéias são "mais humanitárias e amplas do que qualquer outra existente hoje". Depois do encontro, Solana qualificou a reunião de meia hora como uma chance para trocar idéias. "Eu disse a ele que discordo basicamente de tudo o que diz, mas precisamos conversar com todos", justificou. Mais tarde, depois de reunir-se com Olmert, o chefe da política externa da UE disse ter recebido garantias de que, apesar da presença de Lieberman no governo, não haverá mudanças nas políticas do primeiro-ministro. Olmert, obrigado a abandonar sua promessa de campanha de retirar-se da Cisjordânia por causa da recente guerra no Líbano, tem dito que gostaria de retomar o diálogo de paz com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas. Solana desembarcou nesta quarta-feira em Israel para uma viagem de seis dias pelo Oriente Médio com o objetivo de dar novo fôlego aos esforços de paz na região. Durante o giro, ele deverá reunir-se com outras autoridades israelenses. Ele também deverá conversar com Abbas e viajará à Jordânia, ao Líbano e ao Egito antes de retornar à Europa. Divisões políticas A indicação de Lieberman para o governo ainda precisa ser aprovada pelo Parlamento. Mas a votação, prevista para a próxima semana, é amplamente vista como mera formalidade. Lieberman é um personagem que provoca divisões na política israelense. Ele defende que Israel se livre dos cidadãos árabes por meio da troca das cidades árabes israelenses por colônias judaicas estabelecidas na Cisjordânia. Ele também pediu a execução de deputados árabes que reuniram-se com integrantes do grupo radical islâmico Hamas, que atualmente governa a ANP. Ahmad Tibi, um parlamentar árabe, criticou a reunião entre Solana e Lieberman. Segundo ele, tal encontro concede legitimidade ao político radical israelense, comparado por ele aos líderes ultradireitistas Jean-Marie Le Pen (França) e Joerg Haider (Áustria). "Conversei com Solana e disse a ele que seria melhor que o encontro com Lieberman não acontecesse. A UE tem muito a dizer sobre Le Pen e Haider e é terrível que aquilo que não se concedeu a um fascista europeu seja concedido a um fascista israelense", sentenciou.

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