21 de novembro de 2012 | 02h02
Só os radicais israelenses e palestinos, conhecidos por praticar a política do cinismo, têm o que comemorar com uma semana de banho de sangue seguida de um de cessar-fogo, caso o acordo seja de fato alcançado. Da luta sem sentido, saem fortalecidos a direita militarista israelense a dois meses das eleições, de um lado, e a opção islâmica fundamentalista e armada do Hamas, que confronta a moderação laica do Fatah, de outro. A grande vítima da operação Pilar de Defesa e dos foguetes vindos de Gaza - além das dezenas de civis mortos e centenas de feridos - é, novamente, a solução de dois Estados.
Ao ir para cima do Hamas, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, fez uma opção arriscada, tanto no âmbito da política interna quanto no da diplomacia. No campo palestino, com ou sem invasão terrestre a Gaza, a facção islâmica que controla o território só tem a ganhar.
Uma ofensiva por terra significaria mais uma carnificina entre os palestinos e a certeza de que o apoio inicial a Israel concedido pelos europeus, principalmente Grã-Bretanha e Alemanha, evaporaria. Os EUA manteriam seu apoio automático aos israelenses, mas veriam dois de seus maiores aliados no mundo islâmico, o Egito do presidente Mohamed Morsi e a Turquia do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, radicalizarem sua oposição ao governo israelense.
Internamente, Netanyahu também aposta alto, a dois meses de uma eleição na qual, por enquanto, é favorito. Segundo pesquisas, 85% dos israelenses apoiam a atual ofensiva aérea - cifra próxima à da proporção judaica da população de Israel. Entretanto, menos de um quarto diz que Netanyahu deve recorrer às tropas terrestres, o que o premiê diz que fará caso gore o cessar-fogo. "Se soldados israelenses começarem a morrer, o cenário político mudará muito", disse ao Estado o analista israelense Uzi Eliam.
Em Gaza, o Hamas é o grande vencedor dessa nova rodada de violência independentemente de seu desfecho, afirma Magid Shihade, professor da Universidade Birzeit, de Ramallah. "Qualquer ofensiva militar fortalece politicamente o Hamas. E, quanto mais popular a facção islâmica, menores as chances de um acordo de união entre o Hamas e o Fatah."
Isolado física e politicamente em Ramallah, o presidente Mahmoud Abbas vê de longe a crise. Sua proposta de retornar à ONU em busca do reconhecimento do Estado palestino, anunciada há cerca de dez dias, sumiu dos jornais palestinos e israelenses. Em seu lugar, estava o comandante militar do Hamas, Mohamed Deif, prometendo uma "nova fase daqui" na luta pela destruição de Israel.
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