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Sudão do Sul permite estupros como forma de pagamento, diz ONU

De acordo com relatório do Alto Comissário para Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al-Hussein,  violação de mulheres é usada como instrumento de terror e arma de guerra; Unicef pede mais ajuda

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Por Redação
Atualização:

GENEBRA - O Sudão do Sul permite que seus combatentes "estuprem mulheres como forma de pagamento", denunciou a ONU nesta sexta-feira, 11, descrevendo a situação dos direitos humanos naquele país em guerra como "uma das mais espantosas do mundo".

No Sudão do Sul se vive "uma das situações mais espantosas do mundo para os direitos humanos, com um uso em massa dos estupros como instrumento de terror e arma de guerra", declarou o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al-Hussein, ao apresentar um relatório das Nações Unidas sobre a situação no país.

Soldados do Sudão do Sul na cidade de Koch; ONU acusa governo de autorizar estupros como forma de pagamento Foto: AP Photo/Jason Patinkin, File

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Em seu relatório, a ONU afirma que, "segundo fontes confiáveis, as autoridades permitem que grupos aliados estuprem as mulheres como forma de pagamento", seguindo o princípio do "façam o que puderem e tomem o que quiserem".

"A escala e o tipo de violências sexuais - que geralmente são cometidas pelas forças governamentais do Exército Popular de Libertação do Sudão e por suas milícias afiliadas - são descritos com detalhes terríveis, assim como a atitude - quase casual, mas calculada - daqueles que massacraram civis e destruíram bens e meios de subsistência", afirma Hussein.

O Sudão do Sul, que se tornou independente do Sudão em julho de 2011 após décadas de conflito com Cartum, encontra-se afundado em uma guerra civil desde dezembro de 2013, quando o presidente Salva Kiir acusou seu ex-vice-presidente, Riek Machar, de querer derrubá-lo.

Mais de 2,3 milhões de pessoas precisaram abandonar seus lares e dezenas de milhares morreram devido ao conflito e às atrocidades cometidas por ambos os grupos.

O relatório da ONU contém relatos sobre pessoas, incluindo crianças e deficientes físicos, que foram assassinadas, queimadas vivas, asfixiadas em contêineres, executadas, penduradas ou cortadas em pedaços.

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"Diante da amplitude, da profundidade e da gravidade das acusações, da repetição e das similaridades observadas no modo de operação, o relatório conclui que existem motivos razoáveis para crer que estas violações podem ser consideradas crimes e guerra e/ou crimes contra a humanidade", disse o Alto Comissário da ONU.

Segundo as Nações Unidas, "a grande maioria das vítimas civis não parecem ser o resultado dos combates, mas de ataques deliberados contra civis". Para a ONU, "os atores estatais têm a maior responsabilidade pela violência cometida em 2015, diante do enfraquecimento das forças da oposição".

Crianças. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou que a ajuda humanitária para o país está a beira do colapso, o que colocará centenas de milhares de crianças em perigo.

A agência humanitária advertiu que só conseguiu arrecadar 18% do valor solicitado, o que pode deixar 3,3 milhões de crianças sem vacinas contra o sarampo, além de 260 mil não poderem voltar à escola e 7,3 mil não poderem ser reunidos com suas famílias.

lém disso, o Unicef disse que as reservas essenciais de alimentos acabarão em agosto, fato que, unido à época de "vacas magras" esperada para maio, deixará 40 mil pessoas em risco de inanição.

A pobreza também aumentou de maneira alarmante nas cidades, pois os preços dos alimentos dispararam.

Em Juba, a capital, a taxa de desnutrição infantil é três vezes mais alta que nas zonas rurais próximas.

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O porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Jens Laerke, expressou em entrevista coletiva sua preocupação com o pouco financiamento recebido (7,8% do total, cerca de US$ 100 milhões) pelos doadores para enfrentar a situação no Sudão do Sul.

"Sabemos que leva tempo para conseguir o dinheiro, mas a esta altura (a ajuda foi pedida em dezembro) esperávamos contar com um valor mais alto", lamentou. / AFP e EFE

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