Suíça reforça suspeita de farsa

Segundo polícia, exame confirma que brasileira não estava grávida no momento em que teria sofrido ataque racista

PUBLICIDADE

Por Jamil Chade
Atualização:

A polícia de Zurique afirma que a suposta agressão contra a brasileira Paula Oliveira pode não passar de um farsa montada por ela e a possibilidade de que ela tenha cometido automutilação é grande. Ontem, numa ofensiva para tentar reverter a imagem da Suíça, políticos, médicos e comandantes da polícia indicaram numa coletiva que a brasileira teria mentido em seu depoimento e não estava grávida no momento do ataque. Depois de converter o assunto numa questão de Estado, a diplomacia brasileira não escondeu sua "perplexidade" com o laudo e afirma que ainda é um "enigma" a razão que teria levado Paula a mentir sobre o momento do aborto. Ontem, a consulesa-geral do Brasil em Zurique, Vitória Clever, admitiu que Paula apresenta "variações" em suas declarações. "Temos de dar um tempo para que Paula tenha suas ideias mais claras", afirmou. "Não podemos dizer com 100% de garantia que ela cometeu automutilação. Mas qualquer médico legista experiente estaria convencido de que esse é o caso, diante das evidências que colhemos", afirmou o legista, Walter Baer, diretor do Instituto Médico Legal de Zurique, uma entidade independente da polícia. Mas, em declarações ao jornal local Tagesanzeiger, o médico foi bem mais duro. "Essa é uma forma de golpe", disse. Ainda que não feche as portas para uma eventual confirmação da agressão, o laudo será a base da investigação policial de agora em diante. "Eu ficaria muito surpreso se novos fatos surgissem mostrando outra conclusão", disse. Para ele, o caso poderia até ser exemplar para a literatura médica e muitos dos padrões de pessoas que cometem esses atos estão repetidos no corpo da brasileira. Paula afirmou que, na segunda-feira, ela foi atacada por três skinheads numa estação de trem no subúrbio de Zurique. Depois de ter sido cortada e ter a sigla de um partido de extrema direita talhada no corpo, ela disse à polícia que sofreu um aborto no banheiro da estação. Para sua família, trata-se de um ataque racista. "Se ela estava ou não grávida não é o que importa agora", disse ao Estado o pai de Paula, o advogado Paulo Oliveira. "O que importa é que a polícia suíça precisa fazer seu trabalho e descobrir quem cometeu a agressão. Isso eles estão sendo incapazes de fazer e a verdade é essa. Estão querendo desviar a atenção. A polícia precisa parar de falar e dar sua versão sobre os fatos e agir." "O que estamos apresentando é uma conclusão provisória, mas segundo a longa experiência dos médicos, é clara a possibilidade de autoflagelação", afirmou Baer. "A investigação continuará e essa é uma conclusão provisória. Vamos continuar investigando em todas as direções possíveis", disse o médico. "Com base no primeiro exame, não houve gravidez no momento do suposto acontecimento. E como havia o resultado da inexistência da gravidez, fizemos uma segunda prova de laboratório, que confirmou o primeiro exame", afirmou Baer. Segundo ele, os vestígios no banheiro continuarão a ser analisados. Fontes da família disseram ao Estado que teriam provas de que ela estava grávida. A polícia ressalta que, no momento da suposta agressão, Paula já não estava esperando gêmeos. "Uma parte importante das investigações se refere aos cortes e ferimentos", disseram os policiais. Mas os médicos deixaram claro que ficaram surpresos com o padrão dos ferimentos. "Todas as lesões são muito semelhantes e não são de muita gravidade em termos médicos. A simetria ainda indica que não teria havido resistência no ataque", disse Baer. "O que foi constatado é que todas as feridas se encontram em regiões do corpo que a vítima alcançaria."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.