Suicida diz em nota que havia tentado outras duas vezes

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Por Agencia Estado
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Frustrado anteriormente por duas vezes, "desta vez, espero, serei capaz de fazê-lo", escreveu Mohammed al-Ghoul numa carta de despedida encontrada nesta terça-feira depois que ele detonou explosivos que carregava presos ao corpo num ônibus de Jerusalém, matando 19 israelenses. Al-Ghoul, que tinha acabado de começar um curso de mestrado em estudos islâmicos numa universidade vizinha, datou a carta em um sábado e foi ver parentes pela última vez. No fim de semana, ele visitou sua tia de 80 anos e três irmãs, levando doces para elas. Uma irmã, Layla, disse que ele parecia agir normalmente, e seus parentes só perceberam mais tarde que ele estava dando adeus. Depois das últimas visitas, Al-Ghoul, de 22 anos, deixou sua relativamente confortável casa no campo de refugiados. Parentes acreditaram que ele estava indo para a Universidade de An Najah, na vizinha Nablus, a fim de se preparar para os exames do primeiro semestre. Em sua carta, Al-Ghoul disse ter tentado anteriormente por duas vezes executar ataques, mas não explicou porque não conseguiu. "Que bonito é fazer os estilhaços de minha bomba matarem o inimigo. Que bonito é matar e ser morto - não por amor à morte, mas para lutar pela vida, para matar e ser morto pelas vidas das gerações vindouras", afirmou. Ao lado de seu nome ele escreveu "Izzedine al Qassam" - o braço militar do Hamas, o grupo militante islâmico que assumiu responsabilidade pelo ataque. O ônibus de Jerusalém, alvo do atentado de al-Ghoul estava repleto de estudantes secundaristas e trabalhadores. Pelo menos dois estudantes morreram. O ataque de Al-Ghoul foi o 70º suicida à bomba palestino em 21 anos de confrontos israelense-palestinos. O perfil de al-Ghoul é de um atacante suicida típico - devoto muçulmano, solteiro, em seus 20 anos e filiado por algum tempo a um grupo extremista islâmico. Entretanto, nos últimos meses, palestinos de outros segmentos da sociedade se apresentaram como voluntários, incluindo mulheres, estudantes secundaristas e homens casados. A disposição para cometer atentados tornou-se mais forte após a ofensiva militar israelense de seis semanas em abril e maio na Cisjordânia, que por seu lado foi uma represália a ataques. Na ofensiva, tropas entraram em centros populacionais palestinos, mantiveram centenas de milhares de palestinos sob toque de recolher por várias semanas e detiveram milhares de pessoas, intensificando o desejo de muitos palestinos de se vingar. O ministro da Defesa israelense, Benjamin Ben-Eliezer, admitiu nesta semana que a ofensiva militar, apesar de ter ferido a capacidade das milícias de cometer atentados, fortaleceu a motivação dos palestinos. Ben-Eliezer disse que agora era mais fácil recrutar atacantes suicidas à bomba do que encontrar explosivos nas áreas palestinas. Recente pesquisa indicou que existe um apoio generalizado entre os palestinos a ataques contra israelenses. Uma sondagem mostrou um índice de aprovação de 68%, e outra, 54% - um pouco menos do que resultados anteriores de meses atrás. Na casa de Al-Ghoul, parentes recebiam nesta terça-feira condolências. Sua mãe, Subhiya, soluçava com suas duas filhas, segurando um retrato de seu filho e seu diploma da An Najah. "Meu irmão é um herói. Não estou triste", afirmou uma de suas irmãs, Samar. "Ele é um mártir", considerou seu pai, Haza. "Temos apenas que pedir a nosso Deus para ser misericordioso com ele... Nossos filhos querem morrer por nossa terra, para recuperá-la".

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