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Sul-americanos se queixam de estilo 'distante' de Dilma

Representantes de governos locais reclamam de suposto desinteresse da presidente pela região.

Por Marcia Carmo
Atualização:

Os países vizinhos têm reclamado do distanciamento da presidente Dilma Rousseff e entendem que seu estilo é ''mais voltado para questões domésticas'' e com ''pouco interesse pela América do Sul'', segundo afirmou à BBC Brasil um ministro do governo do Chile. Dilma teria sido convidada para uma visita bilateral, mas não atendeu ao convite neste ano, de acordo com um diplomata chileno - informação confirmada por um assessor do governo brasileiro em Brasília. ''Ela não nos dá muita importância, apesar do nosso imenso interesse pelo Brasil e para onde estão indo cada vez mais investimentos privados do nosso país'', disse o representante chileno. Na semana passada, a ausência da presidente na reunião da Unasul (União Sul- Americana de Nações), em Lima, foi criticada por setores da imprensa peruana. Em um artigo, o diretor do jornal Correo, Aldo Mariátegui, que costuma ter ressalvas ao Brasil, disse que a ausência da presidente Dilma era ''mais forte'' do que as faltas dos presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez, ao encontro. ''Que o Brasil não tenha comparecido a uma reunião do seu bebê Unasul é muito mais forte'', escreveu. A ausência de Dilma na reunião da Unasul, em Lima, foi interpretada por alguns setores políticos como possível "afastamento" devido a questões de interesse do Brasil, como a decisão do Peru de comprar aeronaves militares coreanas e não os aviões da Embraer. Além disso, especula-se em Lima que o projeto do Gasoduto do Sul, defendido pelo ex-presidente Lula, e sob responsabilidade de empreiteras brasileiras, seja substituído por outro, que poderia não garantir a presença brasileira. Visita relâmpago Na semana passada, a presidente Dilma esteve em Buenos Aires, onde participou do encontro empresarial da União Industrial Argentina (UIA). Foi a quarta visita da presidente à Argentina desde que chegou ao Palácio do Planalto. No entanto, entre alguns empresários, temia-se por sua ausência. "Vai ser a presença dela que dará peso ao nosso encontro. Por isso, nossa expectativa é imensa, e esperamos que ela não tenha nenhum imprevisto", disse um empresário argentino, horas antes do evento. Dilma realizou uma visita relâmpago, que durou cerca de quatro horas, mas durante as quais fez um discurso que teve ampla repercussão na imprensa do país. Na ocasião, ela propôs que os empresários argentinos participem dos investimentos no Brasil na área de infraestrutura, que está sendo preparada para receber a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro. Ausências A reunião da Unasul foi realizada no dia 30 de novembro, dois dias após a reunião na Argentina. No dia seguinte, a ausência de Dilma também foi sentida na posse do presidente do México, Enrique Peña Nieto. ''O ex-presidente Lula tinha maior interesse pela América Latina, e especialmente pela América do Sul. A presidente Dilma é uma gerente que tem uma série de questões internas e não tem o mesmo interesse, de forma geral, pela política externa como tiveram Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso'', reconheceu um assessor do governo brasileiro. Dilma recebe os colegas dos países do Mercosul nestas quinta e sexta-feira em Brasília e, na semana que vem, estará na França e na Rússia. Mas autoridades chilenas temem que ela suspenda a sua participação no encontro da Celac-UE (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos-União Européia), marcado para janeiro, em Santiago. ''A presença de Dilma é muito importante e aqui torcemos para que ela não suspenda a viagem em cima da hora'', disseram fontes chilenas em Santiago. A expectativa, de acordo com assessores do governo brasileiro, é que a presidente também compareça à nova posse do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, marcada para 10 de janeiro. Desde que assumiu a presidência, em janeiro de 2011, Dilma realizou 11 viagens aos países vizinhos, incluindo às reuniões do Mercosul e às posses de José 'Pepe' Mujica, no Uruguai, e da presidente reeleita Cristina Kirchner, na Argentina. Lembrança Representantes dos países vizinhos avaliam que o Brasil já não tem sido lembrado como antes, durante o governo Lula. Ele tinha um ritmo de viagens superior ao da atual presidente e costumava falar com freqüência com seus colegas da vizinhança, também por telefone. Na gestão de Lula, quando Argentina e Uruguai viveram um conflito político em torno da construção de uma fábrica de pasta de celulose, a imprensa argentina especulou que o Brasil poderia ser o ''mediador'' entre os dois vizinhos. Pouco depois, ainda durante o governo de Álvaro Uribe na Colômbia, autoridades brasileiras participaram das operações para a libertação de reféns das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), com a aprovação das autoridades colombianas. No mês passado, o Chile e a Venezuela foram convidados pelo atual presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, para ''acompanhar'' o processo de paz com as Farc - o Brasil não participa com papel semelhante. Ao comentar o assunto, um ministro chileno observou que o convite mostra o ''peso'' de seu país e ''fortalece'' a chamada Aliança do Pacifico. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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