Suleiman é escolha do Exército, não da multidão de egípcios

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Por Michael Slackman
Atualização:

Dizem que Omar Suleiman conquistou a simpatia de Hosni Mubarak em 1995, quando salvou a vida dele ao pedir que usasse um carro blindado numa visita à Etiópia. Um atirador disparou contra o veículo, mas Mubarak saiu ileso do atentado. Mas, desta vez, muito provavelmente, Suleiman não conseguirá salvar o presidente. "O presidente escolheu alguém em quem confia", afirma Mahmud Shokry, ex-embaixador egípcio na Síria e amigo pessoal de Suleiman. "Mubarak não sabe o que acontecerá amanhã." Mas Suleiman, um general da reserva, é o candidato do establishment, não do povo egípcio. Sua chegada à liderança, se ocorrer, não representará a mudança democrática exigida pelas ruas, mas uma continuação do governo autoritário respaldado pelo Exército, que Mubarak chefia há quase 30 anos, dizem os especialistas. "Essa é a maneira de preparar o caminho para um regime militar num "contexto constitucional"", disse Ragui Assaad, professor da Universidade de Minnesota. "É evidentemente o resultado de negociações com o Exército." A ascensão de Suleiman poderá atiçar a ira do povo - as multidões já começaram a gritar slogans contra ele -, mas também poderá agradar aos que se beneficiaram da situação, pelo menos a curto prazo. "Ele é um homem duro, forte, eficiente, preocupado com a economia", disse Emad Shahin, ex-professor da Universidade Americana do Cairo. "É um negociador muito hábil." Suleiman chefia a inteligência militar do Egito desde 1993, quando o país combatia os extremistas islâmicos. Aos 74 anos, assim como Mubarak participou de duas guerras contra Israel. Comenta-se que eles têm uma visão de mundo semelhante; desconfiam profundamente do Irã, são a favor de estreitas relações com Washington, apoiam a paz fria com Israel e são contrários a um abrandamento das relações com a Irmandade Muçulmana, o principal grupo de oposição, proscrito, no Egito. Ele costuma ser encarregado de tratar dos problemas mais delicados do Egito, como a questão do Hamas, do Hezbollah e do Sudão. Com a escolha de Suleiman, os especialistas afirmam que é evidente que Mubarak agora precisa agradar aos parceiros que considera mais importantes agora - e talvez os únicos que poderão garantir sua segurança e uma saída sem obstáculos do poder -, os militares. Suleiman foi escolhido no mesmo dia em que Mubarak nomeou um ex-comandante da Força Aérea, Ahmed Shafik, para o cargo de primeiro-ministro. Para vários analistas, isso sugere que as nomeações fazem parte de uma estratégia cuja finalidade é permitir que os militares consolidem o controle do governo. "O que nos preocupa neste momento é o fato de os militares estarem assumindo o controle", disse Shahin. "Não me surpreenderia se Mubarak desaparecesse amanhã ou depois de amanhã." Suleiman é conhecido por se trajar com esmero, preferindo ternos aos uniformes militares. No entanto, como todos os presidentes desde Gamal Abdel Nasser, é um homem de feição totalmente militar. Embora não seja filiado ao partido do governo, é um profundo conhecedor dos meandros do poder, e é considerado por muitos a ligação entre os políticos e os militares egípcios. Sempre foi tão próximo do presidente, viajando com ele na maioria das visitas de Estado, que Mubarak emitiu decretos especiais para permitir que ele mantivesse seu cargo, mesmo depois que chegou à idade em que seria obrigado a deixá-lo pelas normas militares. Memorandos diplomáticos secretos enviados pela Embaixada dos Estados Unidos no Cairo a Washington e divulgados pelo WikiLeaks, confirmam que Suleiman apoia a política externa de Washington.

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